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A batalha de 2021 tem um nome: a guerra das cadeias de suprimentos

Por José Luiz Tejon Megido*

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Guerra das cadeias de suprimentos é o nome da batalha de 2021. A pandemia, a vacinação global em massa provocou o aumento do consumo e, consequente, a alta no preço das commodities, o que gerou a guerra do “suply chain”, ou seja, a guerra das cadeias de suprimentos. 

O Brasil tem commodities para vender. Os preços de julho de 2020 até a semana passada, início de 2021, apontam o crescimento do valor da soja em 53,4%; do milho em 33,9%; do trigo em 24,4%, sem contar o petróleo, que registrou alta de 30,6% e o minério de ferro, 104,2%, segundo dados do Broadcast Estadão. E, se São Pedro não aprontar, o Brasil vai ter outra safra recorde este ano.

Esse cenário tem na China o país com a melhor perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A projeção é de uma alta de 8%, alicerçada na reconstrução da suinocultura, em bases modernas, o que demanda ração. Em outras palavras, soja e milho. A União Europeia deve crescer 5% e os Estados Unidos, a maior economia do planeta, 3%.

Isto reflete em maior demanda para o agronegócio brasileiro, para aqueles que ficam dentro da porteira. Também é ótimo para os que ficam antes da porteira, na venda de insumos e bens de produção. No entanto, pressiona certas matérias-primas, como aço e até papelão para embalagem das sementes. 

O momento é favorável para a indústria do pós-porteira, a distribuição de alimentos e derivados do campo. Mas setores, como o de proteína animal, também sofrem as consequências. Uma delas é o alto custo da ração e de insumos industriais.

A desvalorização do real perante o dólar é outro estímulo gigantesco para a capitalização dos produtores inseridos no agro de exportação. O efeito câmbio traz mais renda a quem exporta. Mas como não existe perfeição no mundo, o aumento dos custos básicos de produção – tanto de matérias-primas para o cultivo dos alimentos, quanto de energia – provoca a inflação.

Diante deste cenário, a Argentina, grande produtora de grãos e de boa parte do trigo consumido pelos brasileiros, decidiu restringir suas exportações de milho. preservando a necessidade de seu mercado interno. E provavelmente fará o mesmo para soja e para o trigo. Países da União Europeia também reforçaram seus estoques de segurança. 

Vamos ver no mundo uma guerra pelo “suply chain”, ou seja, pelas cadeias de suprimentos. O Brasil não é um mercado vendedor, e sim, comprador. A própria rede de distribuição de máquinas no Brasil vive uma disputa de fornecimento dos equipamentos mais demandados, competindo entre si. A guerra nas compras é muito superior à guerra pelas vendas. 

As oportunidades para o Brasil estão em vender com as melhores condições e a abrir mercados novos para produtos novos. Com planejamento, o Brasil pode duplicar as vendas na hortifruticultura, na bioenergia, no pescado, nos produtos lácteos e na proteína animal. Além disso, pode diminuir a dependência do trigo importado, do cacau e usufruir dos títulos verdes e da bioeconomia em todos os seuso biomas. 

Da mesma forma, o país precisará de inteligência nas compras de insumos essenciais. O Brasil tem uma agropecuária globalizada, com alta genética, medicamentos, fertilizantes e uso de tecnologias de diversas partes do mundo, como por exemplo, os defensivos agrícolas. Mas o Brasil não duplicará as vendas sem um planejamento estratégico, que atraia fundos internacionais ávido para investir em áreas, como bioinsumos, também conhecidos como produtos biológicos.

O Brasil tem a melhor cesta de oportunidades do mundo: ativos seguros e de baixo risco. Basta aplicar a lei, onde há ilegalidade – como na questão do desmatamento, e parar com as brigas internas. Afinal, como bem sabem os grandes generais, o inimigo número um é o que fica do lado de dentro das nossas forças. E leia-se nisso, o soldado incompetente.

Todo dia, a Embrapa nos encanta com a ciência à disposição. Recentemente, apresentou o PronaSolos, uma plataforma online que mostra os solos brasileiros mais suscetíveis à erosão. O algodão também dá um show de marketing e governança. O setor saiu da colocação de segundo maior importador mundial 20 anos atrás para o posto de segundo maior exportador com o projeto “Cotton Brazil”.

E Roberto Rodrigues, sábio ex-ministro da Agricultura, embaixador do cooperativismo na Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO), em seu último artigo domingo para o Estadão, abordou o momento atual do Brasil e a temática de venda de terras para estrangeiros. “Se proibirmos isso, o enorme volume de capital internacional que quiser terra vai comprá-la em outros países, criando uma indesejável concorrência para nós”, escreveu. E ainda acrescentou: “Podemos colocar cláusulas de reciprocidade, só podendo comprar terras no Brasil países que permitam compras nos seus países, e exigir que acima de 100 mil hectares, precisaria agregar valor, agroindustrialização, não podendo vender apenas matéria-prima”.

O Brasil tem lei e soberania para administrar muito bem essa questão sem criar o medo de “dragões que cospem fogo pelas ventas”. Há muito mais oportunidades do que problemas no país. E o foco na oportunidade é uma das leis de ouro de Peter Drucker, guru da administração, que costumava afirmar: “Não existe país subdesenvolvido, existe país subadministrado”. Nosso PIB precisa alcançar US$ 5 trilhões em 10 anos. Impossível? Depende. O Brasil é um desafio positivo para as boas lideranças.

*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação pela UDE – Uruguay; mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP); sócio-diretor da Biomarketing e membro do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS) e do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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