Tecnologia embarcada a favor da sustentabilidade

26 de maio de 2021 8 mins. de leitura
Por: Vinicius Galera Em um circuito que não admite desperdício, o campo se tornou palco para uma intensa corrida tecnológica. O aumento da demanda por alimentos, mudanças no perfil do consumidor e o crescimento das exigências ambientais estão obrigando a indústria de máquinas agrícolas a oferecer soluções cada vez mais precisas e sustentáveis.  Parte da […]

Por: Vinicius Galera

Em um circuito que não admite desperdício, o campo se tornou palco para uma intensa corrida tecnológica. O aumento da demanda por alimentos, mudanças no perfil do consumidor e o crescimento das exigências ambientais estão obrigando a indústria de máquinas agrícolas a oferecer soluções cada vez mais precisas e sustentáveis. 

Parte da revolução digital que vivenciamos, a agricultura 4.0 está transformando o modo de pensar nas montadoras. Do monitoramento milimétrico do solo a uma colheita com eficiência máxima ou uso de biocombustíveis, tecnologias inovadoras prometem entregar safras mais rentáveis e menos custosas para agricultores e para o meio ambiente.

As principais fabricantes do mercado brasileiro afirmam que pensam e desenvolvem as tecnologias tendo em vista o tripé da sustentabilidade (social, econômico e ambiental). Nos últimos anos, com a revolução digital, investem na compra de soluções desenvolvidas por outras empresas e startups e em centros de inovação para atenderem às necessidades da lavoura. 

Ficar de fora da corrida pode significar perder lugar na competição. Por isso, os fabricantes sempre têm algo surpreendente a oferecer. De tratores a biometano a câmeras instaladas nas máquinas que detectam apenas as ervas daninhas, ninguém quer ficar para trás. Veja a seguir as principais tecnologias já adotadas ou que em breve estarão em ação nas lavouras brasileiras.

Único trator 100% movido a biometano do mundo deve em breve chegar aqui

Claudio Calaça, diretor de Marketing da NH para América do Sul

À base de biometano

A New Holland, marca da italiana CNH Industrial, trabalha com combustíveis alternativos e energias renováveis desde 2006, quando começou a testar motores compatíveis com biodiesel. Em 2013, de acordo com o diretor de Marketing de Produto da New Holland Agriculture para a América do Sul, Claudio Calaça, a empresa começou a trabalhar com biometano. Ele diz que essa é a principal aposta da marca no desenvolvimento de produtos. Naquele ano, a empresa lançou o protótipo de um trator movido a biometano. Depois de anos de desenvolvimento, o T6 Methane Power foi apresentado na feira Agritechnica, na Alemanha, em 2019.

“Não é uma adaptação. Trata-se do único trator 100% biometano produzido no mundo. O trator já está no nosso portfólio e, logo, deverá ser importado (para o Brasil)”, diz o executivo. Segundo Calaça, o veículo é muito similar a um de motor a diesel. “Operacionalmente não difere em nada. A diferença é que a fazenda vai ter que ter uma estrutura preparada (para ter o biometano disponível).”

No Brasil, há um protótipo sendo testado em uma usina de açúcar e etanol do Estado de São Paulo. O trator tende a ser viável em operações que utilizam resíduos em biodigestores para obter uma produção sustentável. 

A empresa anunciou no dia 20 de maio uma renovação completa na linha de tratores do mercado brasileiro. De acordo com a New Holland, toda a arquitetura eletrônica embarcada, voltada para a agricultura digital, foi remodelada. “Os tratores são conectados em tempo real e o agricultor terá na palma da mão informações para a tomada de decisão correta”, diz.

Pulverização bico a bico

Para a brasileira Jacto, a sustentabilidade no campo vai se tornar permanente, com a consolidação da agricultura 4.0. A empresa, situada em Pompeia (SP), desenvolve preferencialmente inovações e tecnologias próprias. Segundo o presidente, Fernando Gonçalves, no mercado de tecnologia as opções disponíveis são muito básicas. Por isso, a área de pesquisa e desenvolvimento recebe uma fatia entre 4,5% e 5% do orçamento da empresa. Para Gonçalves, o caminho para o ambiental passa pelo viés econômico. “Quando você tem economia de produtos, ela automaticamente leva para uma atividade mais ambiental.”

Ele exemplifica com o funcionamento do Uniport 3030 EletroVortex, um dos principais produtos da empresa. De acordo com o executivo, trata-se do pulverizador mais econômico do mercado. “Pelo peso de duas toneladas, a máquina gasta menos combustível que a concorrência”, diz.  

O pulverizador tem uma barra de 32 metros. A cada 35 centímetros existem bicos autônomos controlados por satélite para a aplicação de defensivos. A cada 5 segundos, o sistema manda 300 tipos de informação sobre a lavoura para a nuvem de dados. Com as informações, são identificados os pontos necessários para a pulverização e o bico só é aberto para aplicação sobre esses pontos precisos. 

Segundo Gonçalves, o 3030 representa uma economia de 10% nas aplicações de defensivos para os produtores. “É um estímulo enorme para o agricultor porque você tem uma economia de químico por um lado e um ganho ambiental por outro. Nesse sistema de bico a bico, que se abre e fecha automaticamente, as perdas são muito menores e a aplicação não depende do operador. Esse tipo de automatismo deve gerar ganhos enormes para o produtor.” 

Além de outras máquinas de grande porte, o portfólio da empresa oferece inovações para áreas menores, como o Jacto DJB – 20s, um pulverizador costal. O equipamento tem autonomia de oito horas e dá mais conforto para o operador. Funciona a bateria, o que evita o bombeamento manual. Com transmissão de dados para a nuvem, o operador calibra e programa o mecanismo e não precisa acionar o gatilho, apenas direcionar a haste pulverizadora sobre o alvo.

Sistema de pulverização seletivo garante enorme economia ao produtor

Fernando Gonçalves, presidente da Jacto

Herbicida na planta certa

Neste ano, para a colheita nos Estados Unidos, a americana John Deere lançou um pulverizador, o See & Spray, que trabalha com um sistema de câmeras para a identificação de plantas daninhas. Para o Brasil, a montadora já está criando um banco de imagens de variedades dos principais cultivos e plantas daninhas do Brasil. A previsão é de que a marca comece a vender o novo equipamento no mercado nacional em três anos.

De acordo com o diretor do grupo de soluções inteligentes da John Deere para América Latina, Rodrigo Bonato, o pulverizador tem um banco de imagens que avalia as plantas no solo. Com um processamento de milissegundos, o sistema identifica a planta daninha e, em vez de aplicar o herbicida na área total, emite um comando para o pulverizador lançar um jato sobre a planta intrusa. Conforme o executivo, a segmentação da pulverização reduz em mais de 90% o uso de herbicidas na mesma área.  

O diretor explica que toda a tecnologia pode ser desbloqueada com a conectividade rural. Ele exemplifica com a plantadeira ExactEmerge, que permite um plantio duas vezes mais rápido que o convencional, podendo atingir 15 km por hora. “Essa tecnologia pode ser monitorada pelo celular. Com conectividade, é possível associar a geolocalização do equipamento com o gerenciamento de frota e, desse modo, tomar a decisão em tempo real.”

Uso de todo o potencial tecnológico das máquinas ainda depende de maior conectividade no campo

Rodrigo Bonato, diretor da JD para a América Latina

Eficiência máxima no plantio

Dona das marcas Massey Ferguson, Valtra e Fendt, a americana AGCO anunciou em fevereiro uma nova estratégia com foco em soluções tecnológicas sustentáveis. O diretor de Marketing da AGCO América do Sul, Alfredo Jobke, explica que todas as máquinas do grupo estão preparadas para trabalhar com agricultura de precisão. “Elas já têm ou piloto automático, ou telemetria, ou sistema de monitoramento que ajuda a levantar todos os dados do campo.”

Desde a aquisição, em 2017, da Precision Planting, uma startup que desenvolve sistemas de plantio voltados para a melhoria do gerenciamento das informações em tempo real e com menos impacto, todas as plantadeiras do grupo utilizam a tecnologia. 

A Momentum Valtra, lançada há dois anos, é um equipamento dobrável que também carrega fertilizantes. “O fato de ela levar sementes e fertilizantes minimiza a quantidade de vezes que o produtor precisa entrar nos talhões durante o período de plantio para as aplicações de fertilizantes ou outro produto”, diz Jobke. Segundo o executivo, isso minimiza a compactação, o consumo de combustível e toda a atividade.

Além disso, por ser dobrável, a plantadeira proporciona maior agilidade. Dobrada, fica com apenas 3,6 metros, e nenhum componente precisa ser desmontado no deslocamento, de acordo com a AGCO. Assim, pode passar com facilidade por porteiras e pontes e ser puxada com facilidade por tratores ou transportada em caminhões-prancha. “As janelas estão cada vez menores, o produtor precisa ser rápido e essa plantadeira atende essa necessidade de rapidez.”

Produtor precisa ser rápido e nossa plantadeira atende esta necessidade

Alfredo Jobke, diretor de Marketing da AGCO para América do Sul

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