Nova geração de soja estará disponível na próxima safra
Produtores de soja terão na safra 2021/22, cujo plantio começa em setembro, pelo menos duas novas tecnologias de sementes, a Intacta 2 Xtend, da Bayer, e a Enlist E3, da Corteva. A Corteva espera lançar também a Conkesta E3, mas depende de aprovação da União Europeia. Além de oferecer variedades por meio de marcas próprias de sementes, ambas licenciaram tecnologias a outras empresas para garantir rápida comercialização.
A Intacta 2 Xtend, da Bayer, é a terceira geração da soja transgênica no País, com tolerância aos herbicidas glifosato e dicamba. Ela amplia a proteção contra lagartas, já presente na Intacta RR2 Pro (Ipro), de quatro para seis. Além da lagarta-da-soja, lagarta-das-maçãs, falsa-medideira e broca-das-axilas, controla a Helicoverpa armigera e a Spodoptera cosmioides. “Isso levará o sojicultor a um novo patamar de produtividade”, diz a líder de lançamento de Intacta 2 Xtend, Natália Carvalho.
A Bayer lançará, por meio de suas marcas de sementes, mais de 30 variedades para 2021/22 de Intacta 2 Xtend e Refúgio Xtend (para prevenir o surgimento de pragas resistentes). No primeiro ano-safra, a empresa prevê que 1% da área de soja no País seja plantada com Intacta 2 Xtend em todas as variedades disponíveis (as suas ou de licenciadas), entre 300 mil e 350 mil hectares. A geração anterior, Ipro, representa cerca de 75% da área no Brasil, segundo a empresa.
Antes do lançamento, previsto para este semestre, a Intacta 2 Xtend teve em 2020/21 áreas de teste com produtores “eleitos” e de produção de sementes, somando 40 mil hectares. O ganho de produtividade será estimado ao fim da colheita. “Temos visto dados na casa de 100 sacas por hectare, como em Aral Moreira (MS)”, diz Natália.
Outro lançamento, a soja Enlist E3, da Corteva, apresenta tolerância tanto ao glifosato quanto ao glufosinato de amônio e ao 2,4-D. O lançamento deve ocorrer em julho. Já a Conkesta E3, além da tolerância aos mesmos herbicidas, protege contra lagarta-da-soja, falsa-medideira, lagarta-elasmo, lagarta-das-maçãs e helicoverpa, além de proteção moderada contra Spodoptera cosmioides e lagarta-das-folhas. “É possível que lancemos as duas tecnologias em 2021/22, mas dependemos da resposta da Comissão Europeia”, diz o líder da tecnologia Enlist para Brasil e Paraguai, Christian Pflug.
Segundo ele, as sojas Enlist têm a vantagem de facilitar o manejo da resistência de plantas daninhas ao glifosato, ao possibilitar o uso de outros princípios ativos. O foco da Corteva para o ano é o Sistema Enlist, composto não só pelas sementes, mas também pelo herbicida Colex-D. A empresa prevê lançar, por meio de suas marcas de sementes, 11 variedades em 2021/22, sendo duas Enlist E3 e quatro Conkesta E3, além do licenciamento para outras marcas. Em 2020/21, foram 600 áreas de pesquisa e 74 demonstrativas para Enlist E3 e Conkesta E3.
Nos dois casos, as empresas ainda vão definir o custo ao produtor. “Nossa premissa é calcular o preço associado ao que estamos acompanhando (de resultados) das áreas dos agricultores”, diz Natália, da Bayer.
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“Temos que ter cuidado em garantir um custo acessível e que dê a rentabilidade que o produtor espera e merece.”
Christian Pflug, líder da tecnologia Enlist para Brasil e Paraguai da Corteva.
Concorrentes adotam tecnologias enquanto preparam as próprias
As multinacionais Syngenta e Basf são duas das empresas que vão oferecer variedades de soja com as tecnologias que chegam ao campo em 2021/22. Enquanto a Basf se concentra na Intacta 2 Xtend, a Syngenta planeja ofertar sementes tanto da Intacta 2 Xtend quanto da Conkesta E3.
“Algumas empresas tomaram a decisão de escolher uma ou outra plataforma e só fazer lançamentos nela. Nós decidimos continuar lançando pelo menos em três”, diz o líder do Negócio de Sementes para Brasil e Paraguai da Syngenta, André Franco. Para 2021/22, a empresa prevê lançar pelo menos 13 variedades, podendo chegar a 15. Desse total, pouco mais da metade será Ipro, e as demais devem ter as tecnologias Intacta 2 Xtend e Conkesta E3.
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“O Brasil é grande o suficiente. Tentamos trazer o maior número de opções.”
André Franco, líder do Negócio de Sementes para Brasil e Paraguai da Syngenta.
A decisão de optar pelas duas tecnologias veio após ouvir a opinião de agricultores. “Produtor está buscando genética, produtividade, ciclo, antes de optar por Ipro, Conkesta E3 ou Intacta 2 Xtend”, diz Franco. A expectativa é de atingir entre 200 mil e 250 mil hectares com os lançamentos.
A Syngenta trabalha para levar a sua tecnologia Viptera, utilizada no milho, para a soja, mas ainda sem previsão de lançamento. “No momento em que tomou a decisão de enfocar globalmente no negócio de sementes, a Syngenta colocou uma força grande em biotecnologia”, diz Franco.
A Basf ofertará 13 novas variedades com a tecnologia Intacta 2 Xtend na safra 2021/22. Além dessas, o plano é lançar outras que tiveram, em testes, resultados superiores ao que está disponível no mercado.
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“Em maio decidiremos quantas variedades mais vamos apresentar para a safra 2021/22. Das 400 linhagens potenciais candidatas, devem sair entre 8 e 15 variedades.”
Mairson Santana, líder do Negócio de Sementes de Soja e Arroz da Basf no Brasil.
Por ora, a expectativa é atingir mais de 110 mil hectares com as 13 variedades que têm lançamento confirmado.
A aposta na Intacta 2 Xtend está relacionada ao aumento das alternativas de controle de lagartas e plantas daninhas. “É como se a caixa de ferramentas do agricultor aumentasse”, diz Santana. Nos EUA, a Basf obteve a licença de Enlist E3 e Conkesta E3, mas no Brasil não. Um fator que pesou na decisão foi que, ao adquirir o negócio de sementes de soja da Bayer, a empresa herdou o trabalho sobre mistura da biotecnologia no germoplasma. “Queríamos acelerar os lançamentos e trazer novidades mais rápido para o agricultor.”
Paralelamente, a Basf trabalha no desenvolvimento de tecnologia proprietária para a soja. “Neste momento, vamos trabalhar só com o licenciamento de tecnologias de terceiros. Temos, sim, tecnologias e traits, só que virão num espaço de dez anos”, diz Santana. A empresa pesquisa biotecnologia de resistência ao fungo da ferrugem e a nematoide-decisto. “Estamos nas fases 1 e 2, ou seja, desenvolvemos o trait, colocamos numa planta e fazemos ensaios a campo. Não começamos a desenvolver produtos ainda.”
TMG e Embrapa fazem outras apostas para concorrer no mercado
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As brasileiras TMG e Embrapa adotaram postura mais cautelosa, deixando para os próximos anos o lançamento de variedades com as novas tecnologias. A TMG vai lançar seis variedades para 2021/22, todas com a tecnologia Ipro. A Embrapa lançará cinco – uma Ipro e quatro convencionais.
A TMG obteve a licença da Intacta 2 Xtend, mas pretende lançar variedades com ela para plantio em 2022/23. “Não havia a certeza de que seria aprovada e comercializada na safra 2021/22”, diz o gerente de Pesquisa da TMG, Alexandre Garcia. Para a Conkesta E3, a empresa também foi licenciada, mas espera confirmação da Corteva do lançamento.
Para Garcia, a contribuição da TMG a uma tecnologia já consolidada no mercado (Ipro) vem de diferenciais de melhoramento genético. “A fortaleza da TMG é combinar produtividade com resistência a doenças e tolerância a nematoides”, afirma o gerente, citando dois lançamentos com ampla resistência a nematoide-de-cisto.
A empresa também aposta para o futuro na biotecnologia HB4, de tolerância ao estresse hídrico na soja, na qual colaborou com a proprietária Bioceres para fazer no Brasil a aprovação regulatória e o melhoramento de cultivares. As empresas aguardam aval de China e Europa.
Já a Embrapa Soja lançou quatro cultivares convencionais e uma Ipro com a Fundação Meridional. “Temos trabalhos com a Intacta 2 Xtend, mas ainda não estarão disponíveis na safra 2021/22”, diz o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja, Alvadi Balbinot Jr. Sobre a oferta de cultivares convencionais, Balbinot Jr. enfatiza que a Embrapa mantém um programa de melhoramento genético de soja convencional forte em paralelo ao de transgênicos.
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“Se não seguirmos fazendo melhoramento em cultivares convencionais, no futuro podemos ter redução da disponibilidade de produtos desse tipo de material genético.”
Alvadi Balbinot Jr., chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja
O objetivo é obter materiais com boa sanidade em termos de resistência a nematoides, tolerância a percevejos e resistência à ferrugem asiática. Balbinot Jr. cita a tecnologia Block, exclusiva da Embrapa, presente em duas cultivares lançadas, que facilita o controle de percevejos. A Embrapa seguirá trabalhando em novas ferramentas de biotecnologia que usam os genes da soja para desenvolver características desejáveis. O foco, porém, não é desenvolver os próprios Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). “É mais lógico trabalharmos com soja convencional, com os OGMs das empresas privadas e também usando novas ferramentas de biotecnologia.”