Cesb quer provar em números que soja preserva

26 de maio de 2021 5 mins. de leitura
Ferramenta avalia, com o agricultor, todos os aspectos da produção e sua capacidade de garantir critérios econômicos, sociais e ambientais

De que maneira a soja pode ser uma cultura mais sustentável? Uma das respostas é imediata e simples: produzindo mais, em menor área. É a isso que o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) se dedica ao promover anualmente um campeonato entre sojicultores para alcançar o máximo potencial dessa oleaginosa e, mais recentemente, no desenvolvimento de uma ferramenta que comprove a sustentabilidade ambiental, social e econômica da cultura.

Depois de mais de uma década com os agricultores campeões obtendo saltos de produtividade em competições promovidas pelo Cesb, a instituição começou a criar uma medição para provar, com metodologia científica, que, sim, a soja pode ser sustentável.

“Nós achávamos que apenas dizer que a soja é sustentável ficava só no discurso”, justifica o engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e um dos membros e fundadores do Cesb, Decio Gazzoni. Com isso, o comitê está construindo, juntamente com a Fundação Espaço Eco, um “indicador de ecoeficiência da produção de soja”. “É uma nova avaliação para que os produtores que se inscreverem no Desafio de Produtividade Máxima da Soja, promovido pelo Cesb, possam medir seu nível de sustentabilidade”, comenta. “Procuramos reunir diversos fatores que mostram para o nosso associado como ele se posiciona frente a um comparador de mercado, se ele está sendo mais ou menos ecoeficiente do que os outros produtores – que são, geralmente, os campeões de produtividade – e o que ele pode melhorar.”

Como argumento para a criação da ferramenta está um estudo que concluiu que, se todos os produtores de soja do Brasil produzissem com a mesma performance do campeão nacional da safra 2019/20, haveria uma redução significativa na emissão de gás carbônico na atmosfera. No desafio do Cesb de 2019/20, o campeão nacional de produtividade alcançou 7.129 quilos por hectare, enquanto a média de produção brasileira para a soja foi de 3.400 quilos por hectare, conforme a Agroconsult. 

Gazzoni observa que, na ferramenta, são levados em conta os três pilares da sustentabilidade: ambiental, econômico e social e que os testes da plataforma já contemplam esses critérios. “Sob o ponto de vista financeiro, a gente já vinha demonstrando que ser mais produtivo significa ganhar mais dinheiro”, comenta. “Mas observamos que, para ser mais produtivo, são indispensáveis práticas consideradas conservacionistas, como plantio direto na palha (PDP), que contribui, por exemplo, para reduzir pragas de solo e plantas daninhas na área, diminuindo por consequência o uso de agroquímicos”, sustenta o agrônomo. “Dessa forma, também se reduz o uso de máquinas agrícolas no campo e, por tabela, o de combustíveis e por aí vai…”

Para sistematizar as informações, foram escolhidos alguns critérios principais, que são abordados nas entrevistas com os produtores rurais. Os critérios são: mudanças climáticas, esgotamento de recursos finitos, eutrofização (poluição das águas); acidificação de solos ou águas subterrâneas; esgotamento de outros recursos e combustíveis fósseis; preservação da camada de ozônio e toxicidade ao ser humano e o uso da terra. Todos esses critérios, Gazzoni reforça, já estão condizentes com exigências da União Europeia, “que permitirá uma rápida aceitação no mercado exterior para ‘carimbar’ na soja brasileira o selo de sustentabilidade”.

Gazzoni comenta que a sistemática foi desenvolvida no ano passado e, por enquanto, ainda está sendo utilizada apenas entre os “campeões de produtividade do Cesb”, tanto em nível regional quanto nacional, “para ver se tudo o que há na ferramenta faz sentido e se conecta com a realidade brasileira”, acrescenta.

Concluímos que, para a soja ser mais produtiva, práticas conservacionistas são essenciais

Decio Gazzoni, membro e um dos fundadores do Cesb

‘Hoje gasto menos e colho mais’

“Minha soja é muito focada na sustentabilidade”, garante o produtor Laercio Della Vecchia, do sudoeste do Paraná. Ele foi o campeão de produtividade do Cesb na safra passada, com colheita de 7.122 quilos por hectare, e diz que sua “máxima” é “solo sadio, planta sadia”. O sojicultor não separa a alta produtividade da sustentabilidade em suas práticas agronômicas. “Utilizo plantio direto na palha, manejo integrado de pragas, rotação de culturas…”, enumera, citando iniciativas conservacionistas e que aumentam a biodiversidade do solo. No verão ele cultiva soja e milho e, no inverno, ocupa a mesma área com feijão, trigo, cevada, aveia, triticale, ervilha e ervilhaca. “Planto um pouco de tudo”, relata, “sempre deixando o solo coberto”, o que recicla nutrientes e armazena carbono. Se alguma praga é detectada, ele só aplica defensivos caso necessário. O produtor comenta ainda que, quando não tinha a sustentabilidade em mente, gastava mais e colhia menos. “Hoje gasto menos e colho mais.”

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