Projeto no Pantanal eleva sustentabilidade na criação de bovinos

13 de dezembro de 2022 6 mins. de leitura
Sucesso obtido em dois anos com boas práticas permitirá ampliação da iniciativa, que atenderá, em 2023, 75 fazendas

A Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS), projeto piloto criado em 2018 para auxiliar pecuaristas do Pantanal de Mato Grosso a se desenvolverem economicamente e de forma sustentável neste delicado bioma, será ampliada para um programa que pretende atender mais 60 propriedades. Assim, ao todo, serão 75 fazendas assistidas pela equipe técnica do projeto, já a partir do próximo ano. 

“Vamos dar continuidade e expandir a iniciativa a partir de 2023, conforme alinhado com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), juntamente com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e a Embrapa”, disse a gestora do Núcleo Técnico da Famato, Lucélia Avi, durante o 3º Encontro de Produtores da FPS, em 1º de dezembro. “Os resultados positivos nos últimos quatro anos colaboraram para esta decisão.”

MAIOR RENTABILIDADE

Esses resultados dizem respeito principalmente ao aumento de produtividade pecuária no bioma, atrelado a custos mais baixos – o que torna a atividade mais sustentável, tanto economicamente quanto ambientalmente no Pantanal mato-grossense. O projeto é coordenado pela Famato, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), a Acrimat e a Embrapa Pantanal e o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), além de sindicatos rurais. De 2020 a 2022, por exemplo, houve antecipação em um mês em relação à idade no primeiro parto de vacas pantaneiras de corte, que passou de 33 para 32 meses. 

Outra melhoria foi na taxa de prenhez, que avançou de 50% para 72%, em razão do manejo de pastagem e reprodução – ou seja, após a estação de monta, aumentou o índice de vacas que ficaram prenhes. Os dados foram apurados pelo Imea, durante visitas técnicas aos produtores participantes do projeto nos municípios pantaneiros de Poconé, Cáceres, Barão de Melgaço, Santo Antônio de Leverger, Itiquira e Rondonópolis, entre junho de 2021 e junho de 2022.

O responsável pelo custo de produção da pecuária da FPS, Emanuel Salgado, explicou, durante o evento, que a idade ideal para o primeiro parto gira em torno de 24 meses, sendo que a média das três primeiras propriedades do projeto atingiu 27 meses para as matrizes. A lotação do pasto é outro indicador de maior sustentabilidade. Segundo Salgado, a propriedade com melhor taxa de lotação alcançou 2,22 unidades animais/hectare (UA/ha). Além disso, com o FPS, o custo de produção caiu de R$ 358,09 em 2020 para R$ 275,05 por hectare, recuo de 23,1%.

Para o especialista, esses bons indicadores são reflexo de investimentos em manejo de pastagem, no fluxo de animais e monitoramento e gestão da propriedade. “As propriedades estão cada vez mais eficientes. O projeto tem influenciado fazendas do Pantanal, mas não apenas as assistidas pela FPS, como também as que estão ao redor”, observou Salgado. 

Segundo a chefe-geral da Embrapa Pantanal, Suzana Sales, no mesmo evento, a presença do pecuarista pantaneiro na região é “muito importante para o bioma continuar existindo”. “(Ele) consegue produzir com conservação do ambiente, já que o projeto propõe que todas as atividades da fazenda sejam feitas dentro da legislação ambiental e respeitando-se a biodiversidade local”, afirmou. 

Na avaliação do pecuarista pantaneiro Alcides Caetano Martins, também presente no evento de apresentação da FPS, participante do projeto em Poconé, o FPS trouxe orientação e referências para sua produção, mas a maior conquista “foi o conhecimento”. “Eu produzia achando que sabia, a gente pensa que sabe, quando na verdade faltava o conhecimento”, disse. Martins apontou que não existia um sistema correto de manejo do pasto na fazenda e, por isso, não sabia lidar com as plantas invasoras, por exemplo. “Não tínhamos nada de (informação sobre) manejo, não sabíamos como lidar com as invasoras e hoje discutimos isso”, observou. 

Para ele, a produtividade da pecuária no Pantanal “estava morrendo, pelas burocracias e falta de gestão política”. Martins lembrou que a densidade de animais era baixa, e que agora é possível “acreditar novamente e produzir mais (carne) no Pantanal”. 

CICLO DE BAIXA

Salgado, responsável pelo custo de produção do projeto, disse que, após os produtores “surfarem” em 2020 e 2021 durante a forte demanda exportadora – momento em que a arroba do boi gordo beirava os R$ 350  –, o próximo ano tende a ser de desafios, com preços menos remuneradores aos pecuaristas. “A tendência é de que o preço do bezerro e do boi gordo continue em queda”, projetou. “Já nos próximos meses vamos perceber novos ajustes negativos de preços”, continuou. “É o momento de sentar e ver o uso de estratégias, como alimentação e manejo de animais.”

Para ele, o cenário mundial também indica que é preciso adequar a produção pecuária com ingredientes mais sustentáveis, para atender a mercados exigentes. “Precisamos de selo, certificação e rastreabilidade (desde o nascimento do animal até o momento em que a carne chega à gôndola do supermercado). Se não tiver rastreio, não vai entrar no mercado. Isso é o que está em pauta, o mundo está falando nisso. É melhor nos anteciparmos a algo que vai chegar”, disse. 

Salgado ponderou porém que, apesar dos esforços em tornar a pecuária pantaneira mais sustentável, “neste momento, ainda não existe perspectiva de remuneração extra” para animais que contam com informações de sua origem. Apesar disso, só terão acesso a mercados exigentes aqueles produtores que tenham a rastreabilidade comprovada. “Temos que estar preparados”, resumiu. 

Iniciativa contra incêndios

Após os incêndios dos últimos anos no bioma pantaneiro, a iniciativa privada lançou em junho o projeto Abrace Pantanal, com o objetivo de preservar 2,5 milhões de hectares de áreas nativas da região. Por meio da plataforma integrada para combate a incêndios florestais, o software Pantera atua na detecção precoce do fogo. Com um algoritmo de inteligência artificial, a partir do envio de imagens por câmeras de alta resolução instaladas no topo de torres de comunicação, a ferramenta identifica focos de fogo de forma automática e notifica os operadores do sistema. Dessa forma, a Brigada é acionada e vai até o local para combater os focos de incêndio. As câmeras foram instaladas em 11 torres já existentes na região, sendo que cada equipamento está colocado numa área superior a 70 mil hectares. A iniciativa conta com a articulação da startup Um Grau e Meio e participação da Brigada Aliança, do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), do Polo Socioambiental Sesc Pantanal e da companhia de alimentos JBS.

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