Cotonicultor alia tecnologia a práticas sustentáveis

27 de julho de 2022 6 mins. de leitura
Com uso de agricultura de precisão, ESTRATÉGIAS conservacionistas de solo e água, média colhida de Marcelino de Oliveira supera a da região

Palco frequente de dias de campo e arena para testes e experimentos de novas tecnologias, a Fazenda Sete Povos, em São Desidério, no oeste da Bahia, une as mais avançadas tecnologias da cotonicultura brasileira. Do plantio direto, passando pelo monitoramento digital de pragas, ao sistema de telemetria e à automatização de máquinas, toda a produção de soja, milho e algodão – a principal cultura da fazenda – é baseada na agricultura de precisão. 

À frente da propriedade está o agricultor Marcelino Flores de Oliveira. Natural de Bossoroca, antigo município de São Luiz Gonzaga, nas missões gaúchas, Oliveira chegou ao oeste baiano em 1984, junto com a esposa, Sonia Regina Martins, em busca de áreas para expandir a produção de soja e milho. Em meados de 1999, passou a se dedicar ao cultivo de algodão – que hoje representa 60% do faturamento de sua produção agrícola. Além da Sete Povos, ele possui outras sete fazendas nos municípios de Barreiras, Riachão das Neves e Formosa do Rio Preto, que, juntas, somam 32 mil hectares de área plantada – sendo 10 mil hectares destinados ao algodão –, em área total de 50 mil hectares.

Nas lavouras, Oliveira adota há 30 anos a tecnologia de plantio direto na palha e a rotação de culturas, a fim de preservar a saúde do solo. Nas áreas em que o solo atinge elevado nível de compactação, o produtor conta que faz o revolvimento sem remoção das camadas. “Em 100% da área, mantemos a palhada (da cultura anterior, que foi colhida). Isso dá uma diferença incrível na qualidade e umidade do solo. Em muitos lotes, já observamos a presença de minhocas, o que sinaliza que a matéria orgânica está alta”, relata. 

O plantio direto, técnica na qual se mantém o solo coberto por resíduos vegetais, também colabora para a redução de óleo diesel usado na lavoura. “Com o plantio convencional, são consumidos cerca de 145 litros de diesel por hectare por ano, enquanto, no direto, utilizamos no máximo 80 litros por hectare por ano”, calcula o agricultor, dada a menor necessidade do uso de máquinas para o revolvimento do solo. A rotação de culturas é feita com plantio de milho, soja, algodão, milho de segunda safra, milheto e sorgo, além do cultivo de trigo irrigado. 

Somando as suas oito unidades produtivas, Oliveira possui uma área de cerca de 10 mil hectares de reserva legal e área de preservação permanente, com vegetação do Cerrado – dentro do porcentual obrigatório por lei, de 20%. Nessas áreas, ele conta com funcionários dedicados exclusivamente ao cuidado das matas preservadas. “São cercadas e temos funcionário específico para vistoriá-las, para que não coloquem gado solto, não tirem madeira e controlem o fogo na seca.”

Cultivo preciso

Há aproximadamente dez anos, o produtor também pratica a agricultura de precisão. Entre as medidas adotadas, estão a adubação e o uso racional de defensivos. “Há um cuidado maior em colocar somente o que o solo precisa. Em fertilizantes, não podemos pecar nem pela falta, nem pelo excesso. Em herbicidas, aplicamos somente onde é necessário”, apontou. Ele estima que o volume de defensivos químicos usado para dessecação das áreas tenha se reduzido em 70% no período. 

“É proporcional: se é mais sustentável, a produtividade aumenta e o custo diminui”

Marcelino de Oliveira – Agricultor no oeste da Bahia

No caso dos defensivos, Oliveira faz o mapeamento das áreas e a programação dos pulverizadores para aplicação da dosagem mínima, somente nos locais em que há necessidade. “Hoje, o próprio pulverizador ‘lê’ o solo e aplica onde precisa”, diz. Ainda na proteção dos cultivos, ele usa, há mais de cinco anos, uma plataforma digital para o levantamento de pragas e controle da aplicação localizada. “Não é porque surgiu uma lagarta que vamos aplicar defensivo. Determinadas pragas, se a umidade do ar estiver alta, desaparecem sozinhas. Isso é muito bem monitorado na fazenda”, relatou.

A semeadura das cultivares de algodão e grãos mais avançadas contribuiu para a redução significativa de defensivos. Há cerca de dez anos, Oliveira também usa defensivos biológicos para o controle de ácaros e insetos, além de e inseticidas fisiológicos. “Se pudéssemos, usaríamos zero defensivos químicos, mas ainda não há controle biológico eficaz para a principal praga do algodão, o bicudo-do-algodoeiro”, acrescentou o agricultor. 

Outra mudança feita foi a aplicação da pulverização terrestre que, em tese, ocasiona menor deriva dos químicos, na maior parte da área plantada, com uso pontual de pulverização aérea localizada. Já as embalagens dos químicos passam por processo de tríplice lavagem antes da inutilização e descarte da maneira apropriada.

Produtor certificado e reconhecido como sustentável

Tais ações levaram Marcelino a conquistar o selo Algodão Brasileiro Responsável (ABR), auditado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que atesta que a fibra é produzida em conformidade com rígido protocolo de boas práticas agrícolas, de acordo com critérios ambientais, sociais e econômicos, e a chancela  do programa internacional Better Cotton Initiative (BCI). Ambas as certificações são revalidadas anualmente. 

A virada de chave para uma produção mais sustentável, segundo Oliveira, ocorreu há cerca de 20 anos, quando iniciou o cultivo de algodão. “Práticas mais sustentáveis se tornaram necessárias, principalmente com algodão, que é um cultivo altamente tecnificado”, diz. Desde lá, observa mudanças até mesmo no visual do ecossistema da propriedade. “Hoje, percebemos que as abelhas estão voltando para a fazenda. Temos também um bosque, no qual uma série de pássaros vem espontaneamente”, contou o cotonicultor.

Fora as boas práticas, a propriedade de Oliveira é modelo em alta produtividade. Na safra 2021/22, está colhendo em média entre

370 arrobas e 380 arrobas de algodão por hectare, bem acima das 275 arrobas/hectare na região. Ele também já ganhou, em 2018, o prêmio Desafio Nacional de Máxima Produtividade de Soja, do Comitê Estratégico Soja Brasil, pela maior produtividade de soja das Regiões Norte/Nordeste, com 104,4 sacas de 60 quilos por hectare.

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