Agricultores familiares ganham mais com algodão colorido

5 de outubro de 2022 5 mins. de leitura
Variedades desenvolvidas pela Embrapa e pelo IAC são naturalmente tingidas e permitem menor uso de água e corante

O cultivo de algodão colorido cresce e atrai o interesse de produtores e da indústria da moda, impulsionado pelo adicional de maior sustentabilidade. Hoje, aproximadamente, 400 a 500 hectares da fibra colorida são semeados, de acordo com a Embrapa Algodão – que desenvolveu as primeiras variedades dessas plumas naturalmente coloridas no País. A principal cultivar plantada no Brasil é a de tonalidade marrom, mas também existe a de tom verde e está em estudo um material alaranjado. Para a indústria têxtil, a vantagem é a economia de água e corante. Para os produtores, a agregação de valor.

As lavouras de algodão colorido se concentram no semiárido do Nordeste, com a Paraíba liderando o cultivo da pluma, em sua maioria com certificação orgânica. A 150 quilômetros da capital, no município de Remígio, o agricultor assentado Alexandre Almeida da Silva, de 42 anos, cultiva desde 2004 aproximadamente 4 hectares por safra com a pluma naturalmente colorida. Anteriormente, ele plantava o algodão tradicional, branco. Ele conta que, em sistema agroecológico, produz a fibra em consórcio com milho e feijão no Assentamento Queimadas. “O manejo é o mesmo do branco. Essa fibra se adaptou muito bem à região. É mais resistente do que a branca, além de o valor recebido ser 10% maior”, afirmou. Das 100 famílias assentadas ali, 24 produzem algodão e 6 cultivam a fibra colorida, de acordo com o produtor.

No momento, Silva está colhendo a fibra, que é plantada em meados de março e abril. A produtividade média é de 1 tonelada de algodão em caroço por hectare, o que rende em média de 350 a 360 quilos de pluma por hectare. “Hoje, comercializamos só a pluma. Temos uma boa clientela, com várias empresas nos procurando. Nossa produção atual não é suficiente para atender à demanda.” A pluma colhida em Remígio é beneficiada no assentamento Margarida Maria Alves, em Juarez Távora. Segundo Silva, há expectativa de instalação de uma usina própria em dezembro em Queimadas.  

A fibra marrom era, até o início dos anos 2000, refugada pela indústria, pelo menor comprimento do fio e menor resistência do que a fibra branca, conta o pesquisador e supervisor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Algodão, Marenilson Batista. Ele explica que, com o melhoramento genético, sem uso de transgenia, a pluma colorida já atende às exigências do mercado, mesmo com algumas especificidades inferiores. Segundo o pesquisador, o porcentual de conversão de algodão em caroço para pluma avançou com as pesquisas e hoje é de 35% a 37%, próximo aos 38% a 40% da fibra branca. A instituição de pesquisa possui seis cultivares de sementes de algodão colorido em cinco tons de marrom e um de verde. 

Atualmente, a principal diferença entre a pluma branca e a colorida e o seu maior atrativo para as têxteis e fiações é o menor uso de água para lavagem e tingimento. De acordo com a Embrapa Algodão, as empresas relatam que utilizam sete vezes mais água para lavagem de algodão branco. “Há também impacto no menor uso ou não uso de corante”, acrescenta. Ele cita que, além da Paraíba, há plantio da fibra colorida nos Estados de São Paulo, Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Sergipe, Piauí, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Alagoas e Minas Gerais. 

O valor agregado da commodity incentiva os agricultores familiares do semiárido nordestino a investir na cotonicultura, informa Batista. A Embrapa Algodão calcula que a fibra colorida tenha valor entre 10% e 20% a mais do que o branco, podendo chegar a 30% acima, se for orgânico. “O produto entrou como uma alternativa adicional de renda ao agricultor do semiárido, que precisava ter uma commodity diferenciada da cultivada no Cerrado para contar também com um diferencial de preço no mercado que permitisse o plantio em áreas pequenas”, aponta. 

Sudeste também tem variedades próprias

A fibra também é cultivada no Sudeste, onde o Instituto Agronômico (IAC) desenvolveu há cerca de dez anos duas cultivares próprias de algodão marrom adaptadas às características da região. “Comparado a outras cultivares de algodão colorido, é um material superior em produtividade e qualidade e apresenta melhor resistência a algumas doenças do que a pluma branca. Também permite mistura com a fibra branca na fiação”, informa o pesquisador aposentado do IAC Edivaldo Cia (foto acima), um dos coordenadores do projeto. A produtividade da pluma colorida, entretanto, ainda é 10% a 15% inferior à da fibra branca com menor porcentual de pluma por algodão em caroço que o branco. “Hoje, buscamos aprimorar essas características por meio do melhoramento genético”, apontou o pesquisador.

Consumidor busca moda com sustentabilidade

O algodão colorido cultivado pelos produtores paraibanos é matéria-prima para peças de moda no ateliê da estilista Flávia Aranha, em São Paulo. Ela conta que usa a pluma naturalmente colorida e orgânica há mais de 13 anos. Nesta safra, fará sua primeira compra direta com os produtores da Rede Borborema de Agroecologia, do assentamento de Queimadas, de Remígio. “Utilizo o algodão agroecológico, tanto branco quanto marrom, porque acredito na agricultura familiar, na reforma agrária, na regeneração do solo e em incentivar o uso do algodão sem agrotóxicos”, diz.

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