Cadeia do trigo aposta na retomada do crescimento em 2020
29 de novembro de 2019
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Indústria de moagem prevê retomada em 2020, mas teme dependência do produto argentino
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A previsão da trading ADM para este ano era de uma importação de 7 milhões de toneladas do cereal. No ano passado, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), foram 6,82 milhões de toneladas. “Vamos fechar com 6,5 milhões de toneladas, um pouquinho abaixo. Isso porque houve menos demanda, e a indústria moeu menos”, diz Luciano Madrid Furlan, gerente comercial da trading. Na opinião do ex-embaixador Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o cenário deve mudar no próximo ano. “O mercado vai voltar a ter fornecimento regular, sem nenhum problema.” Para facilitar a chegada de trigo a preços melhores aos moinhos brasileiros, foi implementada no início deste mês a cota de importação de 750 mil toneladas de trigo por ano (equivalente a 6% do consumo nacional em 2018) com alíquota zero.
A medida, que deve entrar em vigor no próximo ano e por tempo indeterminado, faz parte de um compromisso assumido pelo governo brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC) e vale para todos os países, exceto para aqueles com os quais o Brasil já tem acordo comercial, caso do Mercosul. A cota deve favorecer Estados Unidos e Canadá. O volume que exceder o limite será taxado em 10%. “Tem uma discussão de quanto a medida afetará o mercado em preço. É uma quantia pequena, mas, dependendo do momento, pode impactar”, diz Vargas, do Sindustrigo. A Argentina é o maior fornecedor para o mercado doméstico, com 80% do total de trigo importado pelo Brasil. Barbosa não acredita que as farpas trocadas entre os presidentes Jair Bolsonaro e Alberto Fernández, recém-eleito na Argentina, irão ter reflexo no suprimento nacional, como aconteceu durante o governo de Cristina Kirchner. “Não estamos com uma crise com a Argentina, mas há uma escalada de falas dos dois lados que não ajuda ninguém”, diz o ex-embaixador. “A Argentina precisa do Brasil, e o Brasil precisa da Argentina, sobretudo no setor de automóveis”, complementa. Não há um consenso entre os analistas sobre a relação entre os países vizinhos. Alguns temem que o novo presidente, que tem Cristina Kirchner como vice, repita a política de taxação das vendas do agronegócio. “Se o novo governo da Argentina resolver aumentar a taxa de exportação, que hoje é de 7% e que na Era Kirchner chegou a 23%, podemos ter problemas de abastecimento e nos veremos obrigados a recorrer a outras origens. Isso porque a produção nacional de trigo atende apenas 40% da nossa demanda”, diz Edson Csipai, executivo do Negócio Trigo da trading Bunge. Por Lívia Andrade“Se o novo governo da Argentina resolver aumentar a taxa de exportação, que hoje é de 7% e que na Era Kirchner chegou a 23%, podemos ter problemas de abastecimento”, diz Edson Csipai, executivo da Bunge