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Mais de 95% dos produtores rurais utilizam algum tipo de tecnologia digital, diz pesquisa

Wide shot of corn field on farm on summer morning

Levantamento de pesquisadora da Universidade de Brasília diz, porém, que internet ruim barra avanço mais robusto

Por José Maria Tomazela

Um amplo estudo sobre a difusão da agricultura digital no Brasil, realizado pela pesquisadora Maira de Souza Regis, da Universidade de Brasília (UnB), concluiu que a adoção de tecnologias digitais é um caminho sem volta para o setor rural, pois, além de agregar valor à produção, proporciona mais sustentabilidade ambiental, social e econômica aos sistemas agrícolas. Conforme a pesquisadora, os produtores acreditam que a agricultura digital favorece a sustentabilidade, além de reduzir os riscos inerentes à produção agrícola, principalmente os riscos climáticos.

Segundo o estudo, os produtores rurais, em grande maioria, são propícios a adquirir máquinas e equipamentos com toda a tecnologia embarcada, uma vez que grande parte já utiliza programas de controle de fluxo de caixa mensal e parte utiliza drones para gerar mapas de vegetação. O uso de softwares e aplicativos para gestão de propriedades é maior no Centro-Oeste, onde é adotado por 80% dos produtores.

A região com menos uso, com 41%, é o Nordeste. Os usuários de aplicativos de gestão de propriedade são em sua maioria (80%) proprietários de fazendas com grande extensão, de 500 a 1 mil hectares, sendo também mais propensos a fazer parte de grupos de troca de experiência, possuir consultores técnicos contratados e maior renda bruta anual.

A pesquisa apontou que a grande maioria dos produtores (96,3%) utiliza softwares e aplicativos de operações bancárias via internet, 90,74% de previsão climática, 90,71% para manejo agrícola e 70,37% para gestão de propriedades.

Ainda de acordo com o levantamento, 64,81% dos entrevistados utilizam programas de computador para planejamentos anuais, 62,96% programas de cálculo para controle de fluxo de caixa, 59,26%, indicadores para gerenciar as máquinas e a propriedade, 51,82% telemetria para transmissão remota de dados, 27,78% drones para mapear vegetação ou gestão de culturas e 14,81% sensores de vegetação.

A nova geração de agricultores, entre 20 e 30 anos, são os que mais utilizam softwares para manejo agrícola, com escolaridade superior completa ou pós-graduação, não sendo em regra de família de agricultores. As principais culturas em que a tecnologia digital está presente são os grãos, especialmente soja, milho, feijão e sorgo.

Uso da tecnologia pode otimizar diversos aspectos da produção agrícola brasileira Foto: Epitácio Pessoa / Estadão

Constata-se, ainda, a forte relação entre o uso de softwares de gestão com o interesse do produtor em expandir os negócios, os quais obtêm uma renda bruta anual entre R$ 10 milhões e R$ 1 bilhão.

No entanto, foi constatada também a adoção de tecnologias digitais em propriedades a partir de 100 hectares e 10 funcionários. “Pode-se concluir que os agricultores estão cientes dos benefícios da agricultura digital e desejam digitalizar suas atividades, visto que os principais fatores que motivam a adoção são melhor controle de custos, melhor gestão e acesso às informações atualizadas”, afirma a pesquisadora.

Sem rede

O estudo observa que a falta de internet no campo é apontada como principal barreira para a digitalização. Segundo a pesquisadora, faltam estudos sobre a intensidade de utilização das principais tecnologias da agricultura digital para obtenção de uma visão geral das disparidades tecnológicas regionais, assim como o levantamento das áreas de produção que mais utilizam tecnologias digitais.

Para Maira é preciso saber se, com internet e com as máquinas e equipamentos disponíveis, os produtores teriam condições de conectar todos os processos da produção agrícola para a obtenção de informações úteis para a tomada de decisão. Além disso, o uso de ferramentas tecnológicas ainda não é vertical.

“Pode-se dizer que os produtores usam tecnologias de informação para realizarem transações bancárias, acessar a previsão do tempo e verificar cotações de preços. Usam muito a tecnologia da informação para a comunicação, mas não usam com a mesma frequência para a gestão do sistema de produção porque eles não percebem claramente os benefícios da agricultura digital. Ainda há muito a fazer em outras atividades dentro da produção agrícola e, além do tempo, é um processo que demanda orientação, acompanhamento técnico e incentivos de políticas públicas”, disse.

Oportunidade

O grande interesse do produtor rural brasileiro pela adoção de ferramentas digitais nas muitas etapas do processo de produção foi percebido pela startup Cromai, que surgiu há seis anos e atua no monitoramento de culturas como cana-de-açúcar e soja baseado em inteligência artificial. “Trouxemos uma abordagem que proporciona informações relevantes para análises e manejos estratégicos de culturas de forma integrada e automatizada, visando tomadas de decisões mais assertivas”, diz o CEO da startup, Guilherme Castro.

Com mais de 150 funcionários, a startup oferece soluções para grandes grupos de produção de cana-de-açúcar e de soja obtendo resultados como a redução média de 65% no uso de insumos químicos e de água nas plantações – o que corrobora o resultado da pesquisa, de que a tecnologia digital favorece a sustentabilidade. Segundo a Cromai, as ferramentas de inteligência artificial geram fluxos de informações que tornam mais eficiente o uso de defensivos. “Os agricultores aplicam somente onde é necessário, identificando as necessidades da lavoura via software para uma pulverização localizada”, disse Castro.

A startup, segundo ele, está atenta ao grande potencial de digitalização do agro brasileiro e se direciona da cana-de-açúcar para outras lavouras. “Há pouco mais de um ano, entramos no mercado da soja, avançando a partir do próximo ano nas culturas de milho e algodão”, afirmou.

Na Agrishow realizada em maio deste ano em Ribeirão Preto, a Cromai foi reconhecida com o Prêmio Agrishow de Startups pelo modelo inovador na aplicação de herbicidas.

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