Tecnologia avança no campo e produtores escolhem meio online para fechar negócio, mostra pesquisa; nova geração do agro lidera a modernização do negócio
Por José Maria Tomazela
O agronegócio brasileiro ruma para se tornar cada vez mais tecnológico. Um levantamento da consultoria empresarial McKinsey apontou que 71% deles usam o meio digital em algum momento da jornada de compras para fechar negócios. Desses, 41% preferem os canais online. O levantamento The Brazilian Farms Mind in the Digital Era (O que pensam os agricultores Brasileiros na Era Digital, em tradução livre) apontou também que os meios digitais são usados principalmente para a compra de insumos e equipamentos. A empresa ouviu pelo menos 2 mil produtores em 3 anos – entre 2020 e 2022.
A pesquisa apontou ainda que o avanço das tecnologias digitais acompanha a renovação no campo. No Centro-Oeste brasileiro, segundo a sondagem, quase dois terços dos agricultores têm menos de 45 anos. Estes agricultores mais jovens são frequentemente mais instruídos e abertos a novas tecnologias digitais do que os mais velhos, afirma Nelson Ferreira, sócio sênior da McKinsey. “Os primeiros a adotar a agricultura de precisão, como drones e aplicações de taxa variável, tendem a ser os mais jovens, aqueles possuem grandes propriedades e estão localizados na região de Matopiba (Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”, disse.
Conforme o especialista, o estudo apontou que, além da compreensão de como usar as novas tecnologias, a falta de cobertura de telecomunicações, especialmente a internet das coisas, limita a adoção de tecnologias digitais. A análise encontrou pelo menos cinco grupos comportamentais distintos de agricultores, levando em consideração fatores como cultura, tamanho da propriedade e faixa etária.
Um deles, o de produtores de hortícolas, aparece na frente dos grandes produtores de cereais e fibras quanto ao uso de tecnologias digitais. Os horticultores, via de regra, ocupam áreas de produção menores do que os produtores de grãos.
A tendência à digitalização é explicada pelo diretor administrativo e sócio da Shimada Agronegócios, Hugo Shimada, para quem a horticultura deixou de ser vista como cultura familiar, tornando-se uma agricultura empresarial.
Em uma área menor, ele produz grande variedade de produtos de ciclo mais rápido e de alto valor agregado, como alho, cenoura e beterraba. Nesse contexto, o uso de ferramentas digitais é essencial para garantir a qualidade e evitar perdas nas lavouras. Shimada cita o exemplo do alho: um hectare desse produto vale cerca de R$120 mil. “Os meios digitais que mais utilizamos são o manejo de praga, com a ferramenta strider, manejo de frota, através da Solinftec e gerenciamento de irrigação, através da Icrop. Já os apontamentos de produção são feitos via digital com o Apontagro”, especificou.
‘Nativos’ digitais
Para Bruno Muller, head de Agricultura Digital da Syngenta, há diferentes desafios para essa geração e as barreiras podem ser quebradas com soluções digitais tecnológicas práticas que ajudem a superar os desafios do dia a dia no campo. “Há os ‘nativos’ digitais, que cresceram cercados de dispositivos digitais e serão as pessoas que mais cobrarão essas mudanças, mas temos também aqueles mais experientes que já entenderam que a digitalização não é mais uma escolha. Por isso, a digitalização e as soluções oferecidas devem ser simples e para todos”, disse.
Ele afirmou que o produtor precisa ter em mãos ferramentas digitais que sejam adaptáveis. “É natural que os mais jovens tenham maior abertura para novas tecnologias. Entendo que, quando a solução busca atender as reais necessidades de quem cultiva e está no campo, ela flui de uma forma mais fiel à realidade e, portanto, se encaixa mais harmoniosamente na rotina do agricultor. Isso mostra que há um grande potencial de engajamento, inclusive, de diferentes gerações nas lavouras”, observou. Muller cita como exemplo a plataforma Cropwise, que permite ao produtor navegar por soluções conectadas com um único acesso.
Para o especialista, a inovação, por meio de ferramentas digitais, é desenvolvida para resolver problemas do produtor rural, independentemente do tamanho de sua propriedade. “A transformação digital é para todos, o que se precisa é encontrar formas de permitir que os menores produtores também possam usufruir dessa inovação. É questão de se ter a ferramenta adequada e isso passa pelo entendimento de quem produz e, acima disso, de quem vende essas soluções”, disse.