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Como a política dos EUA pode impactar o Agro brasileiro? 

Adidos agrícolas avaliam efeitos que medidas de Donald Trump têm para as exportações brasileiras e dizem que setor precisa estar atento

Por Daumildo Júnior – editada por Mariana Collini em 18/05/2025

Os primeiros dias do governo de Donald Trump nos Estados Unidos têm sido marcados pela política do “America first” (América em primeiro). E, segundo a adida agrícola do Brasil em Washington, capital dos Estados Unidos, Ana Lúcia de Paula Viana, isso é uma prioridade notória nos encontros com membros do governo norte-americano. 

“Eles realmente estão focados na ‘América em primeiro’, no ‘America first’, em todas as discussões e negociações. Nas conversas que nós temos com o governo americano eles sempre deixam isso muito claro”, disse Ana Lúcia, durante um painel do 3º Congresso da Abramilho, nesta quarta-feira, 14. 

Um dos resultados dessa política são as medidas tarifárias que Trump vem anunciando nos últimos meses para o mundo. O capítulo mais emblemático dessa iniciativa é a guerra tarifária com a China.  A adida avalia que “esse embate com a China, essa gangorra de negociações, abre uma oportunidade para a gente”. No entanto, ela ressalta que setor e o país não podem ficar presos nessa primeira avaliação. 

“Para gente, o que essa guerra tarifária sinaliza? O quanto é importante para o Brasil diversificar os mercados. A gente tem uma diversificação de buscar mercados principalmente na Ásia, África, Oriente Médio. Ampliar esses mercados é superimportante para a gente diminuir a dependência dos Estados Unidos ou da própria China”, comentou. 

Ela também ressaltou que é preciso entender as particularidades brasileiras. “A gente adota muitas práticas sustentáveis, a gente tem mais de uma safra, e isso nos deixa numa posição um pouco mais competitiva que os Estados Unidos no que diz respeito à produção de etanol do milho, nos nossos produtos no geral”, apontou Ana Lúcia. 

Tática da instabilidade

Um efeito imediato das medidas de Trump no comércio internacional é a instabilidade das relações. A adida indica que a conduta norte-americana tem sido “muito agressiva e volátil”, por isso o ambiente de tensão. No entanto, a tática tem sido usada para que os Estados Unidos fechem acordos bilaterais mais favoráveis a eles e isso deveria estar no radar do Brasil, pois o país é um concorrente no setor agro exportador. 

“Os Estados Unidos têm feito acordos bilaterais com outros países, recentemente com o Reino Unido, e esses acordos podem prejudicar na relação do Brasil com esses países que eles estão fechando esses acordos bilaterais”, alertou a correspondente do Ministério da Agricultura. 

Mercosul-União Europeia

A instabilidade provocada pelo governo Trump também pode respingar no acordo Mercosul – União Europeia, no entendimento do adido agrícola em Bruxelas, capital da Bélgica, Glauco Bertoldo. Para ele, a primeira leitura é de que as disputas tarifárias são positivas ao acordo entre os blocos econômicos. “Evidente que o impacto inicial das medidas do Trump ocasionou um efeito positivo no desenrolar do nosso acordo por conta dessa necessidade de se vincular às regiões do mundo que são economicamente muito importantes, como é a América do Sul”, disse. 

No entanto, os desdobramentos da política estadunidense é que preocupam. “A gente viu no decorrer dos dias que está acontecendo nessa negociação agora e parece ter muita instabilidade. Então, o desenrolar dessa intenção europeia de se aproximar da América do Sul depende muito de como vai avançar essa negociação com os Estados Unidos”, complementou.    

Até na EUDR

Bertolo também mostrou que as questões tarifárias podem ter uma vinculação entre a lei antidesmantamento europeia — conhecida com EUDR. Exigências estadunidenses em um acordo de tarifas entre União Europeia e Estados Unidos podem envolver questões na legislação europeia, que ainda não está 100% fechada. 

“O que é notícia de ontem é que temos uma consulta pública aberta para algumas alterações na EUDR. Tomamos conhecimento que os Estados Unidos voltarão a propor uma categoria “no risc” (sem risco) na EUDR, o que seria muito ruim para a gente, e a gente imagina que isso possa compor parte desse pacote de negociação tarifária”, destacou o adido na Europa. 

A criação de uma categoria com risco nulo chegou a ser sugerida no ano passado, mas não foi aprovada. Como explicou ao Agro Estadão a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, a inclusão de mais uma categoria geraria uma discriminação com países que ainda estão em desenvolvimento e favoreceria os países que já passaram pelo processo de desenvolvimento. 

Ainda sobre a legislação antidesmatamento da União Europeia, Bertolo acredita ela deve entrar em vigor no final do ano, ou seja, não teria novos adiamentos, mas disse não saber “se ela vai ter alterações até lá”. Além disso, já circula uma lista de países que figuram na categoria de alto risco, ou seja, com mais restrições de exportações para o bloco europeu. Mesmo com o Brasil fora dessa listagem, a situação ainda preocupa.

“Outra coisa que se ventilou aqui [Europa] é uma lista prévia dos países que seriam classificados como risco alto no sistema de benchmark que está sendo feito agora e deve sair até o meio do ano. Então, só os países com restrições políticas com eles aqui entrariam nessa categoria de risco, como Rússia, Belarus e Coreia do Norte. Isso não alivia muito para a gente, porque, a gente caindo no risco standard [médio] e os outros países no risco baixo, nós já teremos uma imagem prejudicada”, indicou.

https://agro.estadao.com.br/agropolitica/america-first-como-a-politica-dos-eua-pode-impactar-o-agro-brasileiro

Foto: Adobe Stock

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