Segmentação é tendência no mundo dos cafés no Brasil

26 de junho de 2019 6 mins. de leitura
Nas gôndolas, grandes marcas buscam novos nichos com foco em qualidade e apelam à credibilidade de chefs de cozinha para alavancar a venda de cafés especiais

A bebida que dá nome à primeira refeição do dia na mesa do brasileiro está em alta. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o consumo médio no mundo tem crescido na casa de 2,5% ao ano, enquanto no Brasil houve um incremento de 4,8% só no ano passado.

“A qualidade é o motor do consumo. Melhora a qualidade, aumenta o consumo”, diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic. A entidade realiza pesquisas anuais, e dados recentes comprovam a tendência. “Há quatro anos, o espaço de prateleira destinado aos cafés superiores e gourmets, que são os melhores, girava em torno de 6%. No último ano, este volume cresceu para 12%”, afirma Herszkowicz.

“Quando o supermercado aumenta o espaço na gôndola é porque o produto está agradando”, complementa o diretor. De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês), o consumo interno desse tipo de café – grãos da espécie arábica que atingem uma nota superior a 80 pontos, segundo critérios da Associação Americana de Cafés Especiais (SCAA) – tem registrado uma alta de 15% ao ano.


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Quando se olha o volume, o consumo de cafés especiais representa uma pequena fatia: 705 mil sacas de um total de 21 milhões de sacas destinadas ao mercado interno. No entanto, Vanusia Nogueira, diretora-executiva da BSCA, acredita que o Brasil irá ultrapassar 1 milhão de sacas de cafés especiais já este ano, antecipando a previsão de um estudo contratado pela BSCA junto à consultoria Euromonitor Internacional, que apontou que o País superaria essa marca apenas em 2021.

A estratégia das marcas para alavancar as vendas nesse nicho é investir em segmentação, que pode ser por origem (café do Cerrado, café do Sul de Minas etc); por modo de produção (café orgânico); por certificação (cafés certificados Rainforest Alliance ou Utz); por método (cafés fermentados); por causas (cafés produzidos por mulheres); ou por embaixador (cafés assinados por chefs).

Felipe Bronze assinou o microlote da variedade de café Japy, da marca Orfeu

Aprovados por chefs

Nesse último quesito, o café Orfeu foi um dos primeiros a pegar “emprestada” a credibilidade de grandes nomes da gastronomia. O primeiro microlote da marca, lançado em maio de 2017, foi assinado por Thomas Troisgros, neto do lendário Pierre Troisgros, francês que revolucionou a maneira de apresentar a cozinha francesa na década de 1970.

“O chef foi até a fazenda, experimentou diferentes variedades de café, avaliou diferentes pontos de torra, até chegar em um café que representasse sua gastronomia”, conta Amanda Dias Capucho, CEO do Café Orfeu.

Troisgros escolheu o café bourbon amarelo, uma variedade exigente na lavoura, menos produtiva que as demais, mas que resulta numa bebida extremamente aromática e com alta acidez. “No mundo do vinho, falar em variedade de uva e aromas é algo disseminado. No café, não. Os chefs nos ajudam a contar essa história”, explica Capucho.

O microlote assinado por Troisgros foi um sucesso, esgotando em menos de uma semana. Desde então, a marca adotou a estratégia de lançar produtos em edições limitadas duas vezes ao ano. Já houve lotes assinados pela chef Morena Flor, do restaurante Capim Santo, e por Felipe Bronze, apresentador de programas de culinária na TV.

No geral, esses cafés escolhidos a dedo custam um pouco a mais. “Nossos cafés de linha saem por R$ 20,90 a embalagem de 250 gramas. Os microlotes no mesmo tamanho costumam sair por R$ 22,90”, diz a CEO.

Mas já houve edições limitadas vendidas a quase R$ 100. Esse foi o caso das garrafas de 290 gramas de café orgânico (em grãos) da variedade Arara, oriunda de um nanolote, vencedor do Cup of Excellence, um dos principais concursos de cafés especiais do Brasil, promovido pela BSCA.

Alessandra Correa é uma das cafeicultoras do Projeto Florada, do grupo Três Corações

Diversidade como diferencial

Líder no segmento de cafés tradicionais torrados e moídos, a gigante Três Corações também vem apostando no nicho de cafés de qualidade desde 2015, ano em que a empresa lançou o Reserva da Família Santa Clara, uma marca de cafés especiais para a região Nordeste.

Em 2017, foi a vez de apresentar ao mercado a linha Rituais, com cafés de diversas origens brasileiras e certificados pela BSCA. “Nos últimos anos, a Abic tem feito um trabalho gigantesco para aumentar a qualidade dos cafés tradicionais no Brasil, e isso tem estimulado o brasileiro a consumir mais e, consequentemente, querer experimentar outros cafés”, diz Pedro Lima, presidente do grupo Três Corações.

De 2015 para cá, a demanda por cafés especiais no grupo cresceu 30%. No ano passado, a  Três Corações organizou o primeiro concurso Florada do Café, projeto que tem como objetivo valorizar o trabalho das mulheres cafeicultoras em todo o Brasil.

A primeira edição teve 650 inscrições e premiou os 100 melhores microlotes de todo o País. Esses lotes especiais passaram a integrar a linha Rituais, com lucro 100% revertido para as participantes. A novidade mais recente do grupo Três Corações, que no ano passado faturou R$ 4,8 bilhões, foi o lançamento de uma cápsula de café especial, em edição limitada, assinada pelo chef Alex Atala.

A matéria-prima do produto é proveniente de uma das propriedades do grupo, a Fazendo Sequoia, na região da Chapada de Minas. O lote selecionado pelo chef é de café arábica da variedade catuaí vermelho, cultivado a 1.200 metros de altitude, o que resulta num espresso de aromas florais e notas de cacau.

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