Produção de perus se acelera no Sul neste segundo semestre

29 de setembro de 2021 6 mins. de leitura
Aves, com ciclo mais longo do que o de frangos, têm de ser alojadas com bastante antecedência para estarem garantidas na ceia de Natal dos brasileiros

A chegada do segundo semestre do ano começa a aquecer uma série de setores da economia, dentre eles, o de alimentos sazonais, como as aves festivas, aquelas que são protagonistas nas mesas de Natal e ano-novo. No município gaúcho de Nova Roma do Sul, a produção de perus para o fim de ano, como de costume, começou com antecedência. Na granja do produtor Adi Ditadi, de 51 anos, a preparação e o alojamento dos animais que serão consumidos em dezembro se iniciou já em abril. “Diferentemente da criação de frango, que fica pronto em 45 dias, os perus demoram mais ou menos 150 dias”, conta o criador, que decidiu migrar da criação de frangos para a de perus em 2015, depois de 24 anos de trabalho com as aves menores.

Em um negócio que passa de geração para geração, Adi, sua esposa e seu filho tomam conta de três aviários e o primeiro passo, todos os dias, é analisar o consumo de água dos animais no dia anterior. “Depois a gente vê como eles estão, se tem algum animal morto ou machucado. Uma diferença que a gente sentiu foi que o peru é uma ave muito mais agitada que o frango, então às vezes a gente precisa separar um do outro”, disse ele, ao acrescentar, porém, que a criação das aves maiores é mais rentável, especialmente com o trabalho como produtor integrado da unidade da Seara, da JBS, em Caxias do Sul (RS).

Como a granja de Ditadi fornece para uma unidade da empresa que é habilitada para exportar carne de perus para a Europa – embora o trabalho aumente para as festas de fim de ano –, a produção ocorre durante todo o ano. Isso lhe dá segurança, diz ele, mencionando como exemplo a continuidade das vendas durante a pandemia, ainda que a JBS tenha sido afetada pelos efeitos do distanciamento social e pela propagação da doença em algumas de suas unidades. “Para a empresa apertou, mas, aqui, nós trabalhamos direto e este ano vimos até uma valorização do peru”, disse. Um maior pagamento pela ave ajudou a neutralizar um pouco a alta dos custos de produção, principalmente dos grãos que compõem a ração: milho e soja.

Se em 2015 o produtor gaúcho mudou toda a operação com um pouco de receio em arriscar, no ano passado ele entendeu que a decisão foi acertada. Com a remuneração da atividade, Ditadi botou de pé um plano antigo de ampliar a operação, com uma área que passou de 2.400 para 4.620 metros quadrados. Agora, os aviários têm capacidade para alojar cerca de 14.600 perus, ante 7.500 antes da reforma. 

Outro aspecto que entrou no jogo foi a automatização dos controles de temperatura do ambiente, indicador importante para o bem-estar animal, além da instalação de placas de captação de energia solar para reduzir os custos da granja. O investimento foi feito pelo próprio produtor, mas ele conta que recebeu uma assessoria técnica da JBS, que também fez a intermediação para um financiamento bancário mais atrativo.

Consumo o ano todo

A Seara/JBS informa que mais da metade da quantidade de perus produzidos em Caxias do Sul (RS) é direcionada para exportação para a Europa e outros importantes mercados. Isso porque, diferentemente do Brasil, esse produto é consumido durante todo o ano em outros países. Para o mercado doméstico, a expectativa da Seara/JBS é positiva quanto ao consumo no fim do ano, com base na retomada econômica esperada para este semestre. E, além do peru, a grande aposta da empresa para o Natal deste ano é a comercialização do Fiesta Orgânico, um frango de maior porte produzido em sistema em que as aves são criadas soltas e com alimentação composta por grãos 100% orgânicos, livres de transgênicos e enriquecidos com vitaminas e minerais.

Produção brasileira decaiu, mas agora ensaia retomada

No ano passado, o Brasil produziu 159,72 mil toneladas de carne de peru, das quais 74% foram destinadas ao mercado interno, enquanto os outros 26% foram exportados, de acordo com um levantamento feito pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O principal destino do produto em 2020 foi a União Europeia, que aumentou em 9,96% as compras desse tipo de carne, para 8,82 mil toneladas no ano. O Estado que mais exportou foi o Rio Grande do Sul, com 55,62% do volume embarcado ao exterior pelo País, seguido por Santa Catarina, com 43,47% dos embarques, e pelo Paraná, com participação de 0,84%.

Os dados da entidade mostram que a produção brasileira de carne de peru vinha ascendendo de maneira consistente desde 2014. Em 2018, porém, essa produção caiu pela metade e ficou 53,58% menor que a de 2017, de 390,48 mil toneladas para 181,25 mil toneladas. A variação casa com o período em que a BRF, outra importante indústria neste mercado, paralisou a linha de abates de perus em Francisco Beltrão (PR). Na época, a empresa justificou a decisão como uma “adequação da estrutura à demanda do mercado e à melhor alocação de recursos”. 

De lá para cá, a produção anual brasileira continuou caindo, mas agora esse movimento começa a se inverter. Isso porque a BRF anunciou, em maio deste ano, que vai retomar a produção e abate de perus na unidade paranaense. A retomada vem acompanhada de um investimento de R$ 292 milhões para modernização e ampliação de suas unidades no Paraná até 2022. Além disso, a notícia vem logo após a planta de Francisco Beltrão ter sido habilitada para exportar ao México. Um dos primeiros passos, segundo a empresa, será integrar cerca de 200 aviários para a produção de 7.500 aves por dia a partir do segundo trimestre do ano que vem, com os alojamentos previstos para se iniciarem em novembro deste ano.

A notícia animou os produtores da região, que começaram a reformar as granjas para a volta da produção, conta o presidente da Associação de Avicultores Integrados do Sudoeste do Paraná (Avisud), Claudiney Colognese. “Os cerca de 30% que não desmancharam o barracão nestes últimos anos estão se preparando para o retorno, mas muitos deles ainda vão renegociar a proposta da BRF”, disse. 

Segundo ele, a princípio, os perus que serão produzidos em Francisco Beltrão serão apenas para exportação, enquanto os perus natalinos, destinados ao mercado interno, seguirão sendo fabricados em Chapecó (SC).

Colognese conta que os animais utilizados para produtos de corte exportados são os machos, que costumam atingir pesos maiores, entre 18 quilos e 20 quilos, em um período de cinco meses de engorda. Já os famosos perus de natal, na verdade, são peruas, e costumam ficar 60 dias alojadas nos aviários antes de serem abatidas e comercializadas no período festivo.

Este conteúdo foi útil para você?

157110cookie-checkProdução de perus se acelera no Sul neste segundo semestre