Preços recordes de insumos exigirão planejamento

4 de julho de 2022 6 mins. de leitura
Gastos com fertilizantes utilizados nas lavouras subiram quase 100% em um ano-safra

A guerra entre Rússia e Ucrânia acendeu um sinal de alerta no Brasil, sobre o risco de se iniciar o plantio da safra 2022/23, em setembro, sem a quantidade necessária de adubos. Isso porque a Rússia é a maior fornecedora do insumo para a agricultura brasileira, contribuindo com 23% do volume importado anualmente pelo País. Entretanto, após quatro meses de conflito no Leste Europeu, os riscos de desabastecimento caíram consideravelmente, avaliam analistas do setor, já que a chegada de produtos russos está mantida. “Talvez haja aperto maior na oferta, especialmente em fertilizantes potássicos, pela expectativa de diminuição de entrada de produtos russos nos próximos meses, mas não desabastecimento. É preciso acompanhar o desempenho das entregas daqui para a frente”, avalia a analista de Fertilizantes do Itaú BBA, Annelise Izumi.

Se, por um lado, o medo da falta de fertilizantes para uso na safra 2022/23 ficou, em grande parte, para trás, por outro, entretanto, produtores sentem cada vez mais o forte impacto do aumento expressivo dos custos. A adubação da próxima safra será a mais cara da história, calcula a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Os preços dos insumos subiram mais do que os das commodities agrícolas e, no consolidado da safra, ficarão no maior patamar da história”, aponta a coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da CNA, Natália Fernandes. 

Na comparação com a temporada anterior, os adubos se valorizaram entre 40% e 117%. O preço internacional do cloreto de potássio (KCl) aumentou 117,6%, enquanto o do fosfato monoamônico (MAP) avançou 37,8% e o da ureia, 57,4%, de acordo com dados do projeto Campo Futuro, da CNA. Os números consideram as cotações de fevereiro a abril de 2022 ante igual período do ano passado – meses em que comumente grande parte dos adubos é adquirida. Assim, os gastos com fertilizantes para a nova safra de soja devem ser 83% maiores, enquanto para a produção de milho no verão tendem a subir 93% e, para cereal de segunda safra, 43%. “Os fertilizantes vão representar o maior aumento e a maior participação no custo operacional da lavoura, representando 50% dos custos da safra 2022/23”, diz Natália.  

Quanto ao abastecimento, analistas acreditam que o País não enfrentará escassez. Esse era um dos maiores receios do setor produtivo com a guerra no Leste Europeu. “Os riscos de desabastecimento diminuíram substancialmente. Acredito que não haverá falta de produto. Os adubos russos estão chegando e grande parte dos volumes já está contratada”, diz o diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo. Ele calcula que o custo de fertilizantes em dólar para uso em 1 hectare de soja aumentou 196% para a próxima safra e a atual, enquanto o custo com sementes subiu 21% e, com defensivos, 38%.

Risco de atraso

Porém, o volume necessário para a safra ainda não está garantido na sua totalidade e, por isso, ainda há risco de problemas pontuais de falta de alguns fertilizantes, caso o produtor deixe as aquisições para a última hora. Dados da StoneX mostram que 60% dos adubos a serem aplicados nas lavouras no segundo semestre já foram assegurados pelos produtores, ou seja, ainda restam cerca de 40% para serem comercializados. “No momento, a situação de abastecimento caminha para uma resolução, mas o jogo ainda não está completamente ganho. Precisamos acompanhar as importações que ainda faltam”, diz o gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Belotti. Ele avalia que as lavouras de verão estão mais vulneráveis aos riscos ainda existentes da falta de adubos.  

Diante dos preços elevados dos macronutrientes, o Itaú BBA prevê redução de 20% a 40% no uso dos adubos nas lavouras, com produtores lançando mão de residuais estocados no solo. Em 2021, foram 45,8 milhões de toneladas entregues no mercado brasileiro. Em contrapartida, Cogo não enxerga movimento de redução generalizada no uso do insumo. “A maioria relata que vai manter o pacote tecnológico no mesmo nível para buscar produtividade média capaz de cobrir os custos.”

Logística segue como ponto de atenção 

O sinal amarelo ainda está aceso, segundo os analistas, em relação à logística dos fertilizantes, sobretudo na saída dos portos para entrega às fazendas. “O desembaraço dos portos e distribuição interna dos fertilizantes exigem atenção”, diz Belotti, do Itaú BBA. 

A distribuição interna dos fertilizantes é sempre um ponto de alerta. E, este ano, o risco aumentou, em virtude de certa postergação nas compras, o que concentra as entregas em um curto período. “Isso aumenta o risco de atraso para o produtor”, avalia Cogo. 

Ele calcula que, considerando o volume consumido no País no ano passado e o que ainda falta para ser adquirido ou entregue ao consumidor final, cerca de 20 milhões de toneladas ainda precisam chegar às propriedades até meados de julho e agosto.

Maior custo também na proteção dos cultivos 

Após uma safra com relatos de escassez de alguns herbicidas, as preocupações com o fornecimento de defensivos para 2022/23 são menores, dizem analistas. “As importações cresceram e está descartada a hipótese de falta de produto. Pode ocorrer algum atraso, mas não falta”, diz diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo. Ele estima que, até julho, 70% do total de defensivos necessários deve estar em território nacional.

Os produtores, contudo, não devem passar ilesos pelo aumento dos preços. A alta abrangeu os principais ativos usados no combate de pragas. Crise energética, escassez global de contêineres e lockdown nos países produtores de defensivos levaram ao desequilíbrio no balanço de oferta e demanda mundial e impulsionaram preços. 

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima alta de 124% no custo de herbicidas para a próxima safra de soja em relação à anterior e de 136% para o milho de inverno. “Mesmo que o comércio esteja se regularizando, há dúvidas quanto ao recebimento dos produtos da China, mas a indústria se antecipou nas compras e cerca de 65% da demanda está assegurada”, diz a coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da CNA, Natália Fernandes.

Aumento médio do custo para a safra 2022/23

FertilizantesDefensivos
Soja83%29%
Milho verão93%54%


Fonte: Campo Futuro/CNA

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