Juros deverão subir nesta safra

4 de julho de 2022 6 mins. de leitura
No aguardo das medidas do governo, bancos estimam aumento de taxas, mas demanda maior do produtor

O Ministério da Agricultura deve divulgar hoje o Plano Safra 2022/23, que se inicia oficialmente em 1.º de julho e se encerra em 30 de junho do ano que vem. Independentemente das medidas de política agrícola a serem adotadas pelo governo federal em relação ao crédito rural, executivos de bancos que trabalham com linhas de crédito voltadas ao agronegócio projetam crescimento na demanda por parte dos produtores e enfatizam a necessidade de um aumento na oferta de recursos oficiais este ano, em função do cenário de maior cautela enfrentado, sobretudo, pelos pequenos e médios produtores. Com a elevação da taxa básica de juros, a Selic – que passou de 3,5% ao ano em junho de 2021 para 13,25% ao ano –, a disparada nos custos de produção e as incertezas climáticas, os produtores precisarão investir mais para plantar.

Para o diretor de Agronegócios do Santander, Carlos Aguiar, o plano a ser anunciado hoje deve trazer um aumento nas taxas de juros. “Vão subir, mas ainda devem ficar abaixo dos 10%”, avalia. No ambiente de juros livres, contudo, o aumento nos porcentuais tende a inibir a tomada de crédito para investimentos de longo prazo, como em maquinários, silos e irrigação. “O melhor neste momento é repensar os investimentos e focar em garantir recursos para o custeio da produção. Nem todos os produtores vão conseguir tudo o que precisam após esse aumento de custos”, afirma.

Juros vão subir, mas ainda devem ficar abaixo dos 10% na safra 2022/23

Carlos Aguiar
Diretor de Agronegócios do Santander

A perspectiva dele se coaduna com o que projetam as entidades do agronegócio, de que o governo federal divulgue um programa mais robusto do que o do ano passado, embora menos subsidiado. Isso porque há uma encruzilhada entre deixar as taxas de juros mais salgadas e suprir um número maior de agricultores ou segurar as taxas e atender menos produtores. “Os juros já subiram muito, então mais recursos seriam necessários”, afirma Aguiar.

Dinheiro Garantido

Em relação aos recursos livres, no que depender do Santander, os produtores terão o necessário para os financiamentos, garante Aguiar. A carteira de crédito agro do banco gira em torno de R$ 31 bilhões, dos quais apenas um terço depende de recursos direcionados. A expectativa é de que cresça mais 25% em 2022, já tendo avançado cerca de 19% de janeiro até junho deste ano.

Outra fonte de recursos importante para o crédito rural, a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) pode ganhar maior relevância na safra 2022/23, segundo Aguiar. “Quanto menos dinheiro equalizado, maior a necessidade de fontes alternativas de recursos, como os títulos do agronegócio, que devem crescer este ano.”

As estimativas referentes à demanda por crédito rural com taxas de juros livres nos bancos, contudo, ainda dependem dos detalhes do programa do governo federal, destaca o diretor de Agronegócios do Bradesco, Roberto França. “Precisamos ter um dado mais concreto de como ficará o limite de tomada de recursos pelos produtores nas diferentes linhas”, diz. Ao considerar uma manutenção do teto de R$ 3 milhões para custeio de pequenos produtores, de R$ 1,5 milhão no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) e de até R$ 250 mil no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), além do porcentual de depósitos à vista, dos quais 25% devem ser obrigatoriamente destinados ao crédito rural, o executivo estima que cerca de R$ 12,5 bilhões estarão disponíveis em recursos direcionados, sem equalização do tesouro.

Produtor que tem mais de 500 hectares tem de complementar empréstimo com crédito livre

Roberto França
Diretor de Agronegócios do Bradesco

Com os limites estabelecidos, seria possível estimar com maior clareza a demanda por recursos com taxas de juros livres, uma vez que os produtores maiores costumam financiar uma parte das demandas com recursos subsidiados e a outra parte com crédito livre. “O pequeno produtor costuma ficar bem atendido com os recursos direcionados; o produtor médio já pega o crédito direcionado e vez ou outra recorre aos recursos livres; mas o produtor que tem mais de 500 hectares naturalmente precisa complementar com o crédito livre”, diz.

França explica que o maior desafio dos bancos na oferta de crédito para a safra 2022/23 é definir o preço correto para atender às demandas dos agricultores. “Os bancos estão ampliando a carteira de agro, sustentando o crescimento do setor. Mas não dá pra atender todos sem o financiamento com taxas subsidiadas”, afirma. Segundo ele, com a alta da Selic, o custo financeiro dos recursos dos bancos se encarece e os recursos com componentes subsidiados acabam mais rapidamente.

Do lado da demanda, o crescimento da procura por crédito será inevitável, fruto do aumento relevante do preço de insumos como sementes, defensivos e fertilizantes. “E os bancos não terão dificuldade para atender.” O executivo lembra que as sementes, adubos e agroquímicos, por exemplo, tiveram um aumento médio de 40% a 50% da safra passada para a atual. E por isso o produtor vai demandar mais crédito. “Inclusive a gente tem estoque de crédito aprovado, aguardando produtores confirmarem os pedidos para as fábricas e concessionárias faturarem. Tem também um estoque grande de maquinário aguardando linhas do Plano Safra.”

Na avaliação de França, o governo deve conseguir o maior valor possível para ofertar, e esse aumento deve atender pelo menos o crescimento no custo com insumos. Para isso, o volume de crédito oferecido no âmbito do Plano Safra 2022/23 teria de vir em torno de R$ 330 bilhões – ante cerca de R$ 251 bilhões na safra. No ano-safra 2020/21, o valor da carteira de crédito rural do Bradesco foi de R$ 13,7 bilhões, com 75% do valor desembolsado no ano-safra. Em 2020/21, na comparação com a safra 2019/20, os desembolsos cresceram 11%.

O Banco do Brasil, outra importante instituição financeira para o agronegócio, já observou um crescimento de 16,42% na carteira de crédito agro em março de 2022 ante igual mês do ano passado, de R$ 198,5 bilhões para R$ 254,6 bilhões. O presidente do BB, Fausto Ribeiro, estima aumentar o volume de crédito do Plano Safra 2022/23 em pelo menos 20%, com um piso desejado de R$ 175 bilhões. Na versão 2021/22, o valor destinado ao programa foi de R$ 145 bilhões.

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