Inpev mostra o caminho da excelência em logística reversa

29 de setembro de 2021 8 mins. de leitura
Programa de recolhimento de embalagens vazias de agrotóxicos já retirou e reciclou, em 20 anos, mais de 630 mil toneladas de recipientes

Roberto Nunes Filho

Entre os grandes diferenciais do agronegócio brasileiro, ocupa posição de destaque o programa brasileiro de logística reversa de embalagens vazias e sobras pós-consumo de defensivos agrícolas — também conhecido como Sistema Campo Limpo.


Gerido pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), instituição sem fins lucrativos criada em 2002 e que é constituída por 131 fabricantes e 9 entidades representativas da indústria, distribuidores e agricultores, esse grande e bem-sucedido programa tem como base o princípio de responsabilidades compartilhadas entre todos os elos da cadeia produtiva, com o objetivo de realizar a logística reversa de embalagens vazias de defensivos agrícolas.

Passadas duas décadas da criação do Inpev, o sistema ganhou relevância e notoriedade graças à sua capilaridade e, naturalmente, à organização logística. Disponível nos 26 Estados do País e no Distrito Federal, o Sistema Campo Limpo conta com mais de 400 unidades fixas de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos. Em números absolutos, são 99 centrais e 312 postos.

Do total de unidades, 92 contam com o serviço de Agendamento Eletrônico de Devolução. Paralelamente, ainda são realizados recebimentos itinerantes em várias localidades, para auxiliar agricultores localizados em áreas mais distantes. Além disso, mais de 200 unidades estão licenciadas e aptas para atender agricultores que possuem embalagens com sobras de defensivos agrícolas nas propriedades.

No dia a dia, o fluxo desse vaivém de embalagens segue um roteiro-padrão: os postos de recebimento encaminham para as centrais as embalagens coletadas, que fazem a inspeção, a segregação por tipo de material, compactam e enviam para o destino final.

O extrato do programa ainda traz outros números de destaque. Mais de 260 associações de revendas e cooperativas fazem parte do sistema, que atualmente atende um universo de 1,8 milhão de propriedades agrícolas. “Hoje, este sistema se tornou referência mundial, tanto pela sua abrangência e eficiência quanto pela complexidade em operar um programa desta natureza em um país grande como o Brasil”, avalia o diretor-presidente do Inpev, João Cesar Rando.

João Rando, do Inpev: 93% das embalagens recolhidas são recicladas; o restante vai para incineração

O executivo diz que o modelo logístico praticado é fator-chave para o pleno funcionamento do programa. “O mesmo caminhão que leva o produto novo retira as embalagens usadas. Nesta engrenagem, contamos com o apoio de 25 transportadoras terceirizadas”, conta Rando. “Quando uma central tem 13,5 toneladas de embalagens prontas, o sistema dispara um alerta para o operador logístico, sinalizando que é hora de retirar as embalagens usadas.”

Nessa dinâmica, 93% do que é devolvido pelas propriedades segue para reciclagem. O restante tem como destino a incineração. E tudo o que é reciclado é convertido em artefatos plásticos, entre eles, tampas para defensivos agrícolas, conduítes, dutos, drenos e conexões e tubos para esgoto. “Este é um grande exemplo de exercício bem-sucedido de economia circular”, reforça Rando.

A reciclagem das embalagens proporciona benefícios ambientais diretos, com a redução da geração de resíduos sólidos e a decorrente não emissão de gases do efeito estufa, além de poupar energia na fabricação de novos produtos. “Quando as embalagens são abandonadas no ambiente, ou descartadas inadequadamente, podem contaminar o solo, as águas superficiais e os lençóis freáticos. Há ainda o problema da reutilização sem critério das embalagens, que coloca em risco a saúde de animais e das pessoas”, explica Rando.

Essa era a realidade antes da sistematização do programa de logística reversa desses materiais. Segundo uma pesquisa realizada pela antiga Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef – hoje abrigada na CropLife Brasil), em 1999, 50% das embalagens vazias de defensivos no Brasil eram doadas ou vendidas sem nenhum controle, 25% tinham como destino a queima a céu aberto, 10% ficavam armazenadas ao relento e 15% eram simplesmente abandonadas no campo.

​​”Hoje, este sistema se tornou referência mundial, tanto pela sua abrangência e eficiência quanto pela complexidade que existe em operar um programa desta natureza em um país como o Brasil”
João Cesar Rando,
diretor-presidente do Inpev


“O Sistema Campo Limpo veio justamente para transformar essa realidade. Entre março de 2002 e janeiro de 2021, mais de 630 mil toneladas de embalagens vazias foram destinadas adequadamente. Isso representa 94% das embalagens plásticas primárias colocadas no mercado”, revela Rando. Apenas no ano passado, quase 50 mil toneladas de embalagens tiveram destino correto. Os três Estados mais representativos foram Mato Grosso (26%), Paraná, (13%) e São Paulo (11%). “E, em 2021, fecharemos o ano com 53 mil toneladas de embalagens retiradas”, afirma Rando.

“Nós, agricultores, temos a missão de higienizar as embalagens, com a tríplice lavagem”, diz Ronei Baiotto, produtor de grãos na Fazenda Baiotto, em São Luiz Gonzaga (RS). “Depois, furamos o fundo das embalagens para inutilizá-las e, na sequência, as armazenamos em um local limpo, arejado e isolado. Quando juntamos uma quantidade relevante, providenciamos o envio para a unidade de recebimento local.” De acordo com a legislação, as embalagens devem ser devolvidas no local indicado na nota fiscal. Com 900 hectares dedicados à produção de grãos, a Baiotto destina corretamente um total de 2 mil quilos de embalagens por ano.

Na etapa seguinte, surgem os canais de distribuição e cooperativas. “O distribuidor tem de estar credenciado a uma unidade de recebimento de embalagens vazias, previamente licenciada pelo órgão ambiental do Estado onde atua”, diz o presidente executivo da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), Paulo Tiburcio. “No momento da venda do defensivo, cabe ao distribuidor orientar o agricultor sobre boas práticas de uso do produto, incluindo a tríplice lavagem, o correto armazenamento e a devolução na unidade de recebimento, no prazo de até um ano da data de compra. O endereço da unidade deve estar descrito na nota fiscal de venda.”

Completa a engrenagem a própria indústria fabricante do defensivo, cuja missão é retirar as embalagens armazenadas nas unidades de recebimento e dar a correta destinação ao material, seja ela a reciclagem ou incineração, bem como educar e conscientizar os produtores sobre a importância de seguir procedimentos corretos e participar da logística reversa.

Finalizando esse ciclo, está o poder público, com a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento das atribuições legais dos diferentes agentes; conceder licenciamento às unidades de recebimento e também fomentar a educação dos produtores rurais.

Sistema cada vez mais automatizado

Em julho, o Inpev firmou uma parceria com a Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil), fornecedora de padrões de códigos de barras, para aperfeiçoar os processos de destinação de embalagens pós-consumo de defensivos agrícolas. A parceria permitirá que o instituto rastreie, em tempo real e com precisão, todo o material entregue nas mais de 400 unidades de recebimento espalhadas pelo Brasil.

“Os padrões de identificação globais escolhidos para as embalagens foram o GS1 SGTIN e GS1 DataMatrix, que incluem o código de barras de imagem em duas dimensões”, explica o engenheiro-agrônomo e gerente de Logística do Inpev, Mario Fujii. “Anteriormente, o registro das embalagens era primeiro contabilizado manualmente, para depois ser inserido no sistema do Inpev. Com a automação, a leitura dos códigos no padrão global da GS1 ocorre quando elas são processadas. É de extrema importância para o Inpev ter a condição de realizar de forma rápida e correta a identificação por material, peso, origem, gerando qualidade da informação e rapidez no processo de armazenamento e destinação para os diferentes destinos finais.”

Seis milhões de árvores ‘poupadas’

Para ilustrar o impacto ambiental do Sistema Campo Limpo, entre 2002 e 2020 o programa evitou a emissão de 823 mil toneladas de CO² – o que equivale à emissão de mais de 15,5 mil viagens em torno da Terra de caminhão. Também evitou o consumo de 36 bilhões de megajoules de energia, valor suficiente para abastecer 5,2 milhões de residências durante um ano. “Outro comparativo é que a emissão poupada representa 6 milhões de árvores que deixaram de ser cortadas”, lista Rando. “E, além do aspecto ambiental, vale também destacar o caráter social do sistema, responsável por gerar 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos.”

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