Em MT, 86% dos agricultores têm acesso à internet

28 de julho de 2021 5 mins. de leitura
Conectividade já chegou às sedes das fazendas, aponta levantamento do instituto mato-grossense de economia agropecuária; desafio agora é ampliar área de alcance

>>> Niza Souza

As fazendas da agricultora mato-grossense Roseli Muniz Giachini, que somam 11 mil hectares nos municípios de Cláudia e União do Sul, na fronteira oeste do Parque do Xingu, já estão na era digital, e a produção, cada vez mais tecnificada. As máquinas, agora conectadas à internet, trabalham sincronizadas e conseguem tirar proveito de toda a tecnologia embarcada.

Com o avanço tecnológico, a produtora calcula que conseguiu reduzir para praticamente zero as perdas de sementes e defensivos, causadas pelo trabalho repetido em algumas áreas, a chamada “sobreposição de linhas”, que variava de 5% a 10%. “Melhoramos a qualidade de todas as atividades mecanizadas”, afirma. A internet, diz Roseli, também se tornou essencial para o gerenciamento da fazenda, da emissão de nota fiscal à implementação de um sistema informatizado de gestão, que pode ser acessado de qualquer lugar.

Para ter um bom sinal de internet e conseguir levar a conectividade para toda a sua lavoura de soja e milho, a produtora teve de investir. “Há cerca de quatro anos começamos a implementar um novo sinal. Investimos em uma torre com 3G e instalamos uma estação RTK para o sinal de GPS, o que possibilitou comunicar as máquinas.”

Roseli é um dos exemplos encontrados em Mato Grosso de produtores cada dia mais conectados e tecnificados, comprova pesquisa inédita feita pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) e que revelou o perfil do agricultor do Estado na era digital. De acordo com o levantamento, 86% dos produtores rurais de Mato Grosso têm acesso à internet dentro da fazenda. “Esse número nos surpreendeu positivamente. Isso demonstra um forte potencial de expansão e de inclusão de tecnologias aos hábitos e às práticas agrícolas, potencializando cada vez mais a produção do Estado”, destaca o superintendente do Imea, Daniel Latorraca, responsável pela elaboração do estudo, em parceria com o Senar-MT e com apoio da Agrihub, da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).

De acordo com a pesquisa, a internet começou a ser utilizada nas propriedades rurais há seis anos, em média, e o tipo de conexão mais usado é o rádio. Atualmente, 5% das propriedades rurais mato-grossenses têm sinal 3G e outros 5%, 4G. Isso explica por que em 89% das fazendas a abrangência do sinal se restringe à sede e em apenas 3% alcança toda a área.

“Alto índice de fazendas com internet em Mato Grosso nos surpreendeu positivamente”
Daniel Latorraca, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária
Crédito de foto: Imea
“Alto índice de fazendas com internet em Mato Grosso nos surpreendeu positivamente”
Daniel Latorraca, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária
Crédito de foto: Imea

“A conectividade no campo ainda é muito recente. Podemos dizer que a internet chegou à fazenda, mas não à lavoura. O desafio é melhorar a conexão para ampliar a adoção de tecnologias na produção”, diz Latorraca, lembrando que a mecanização e o uso de máquinas de alto rendimento são uma realidade no Estado. “O produtor mato-grossense sempre investiu, mas há novas tecnologias digitais chegando.”

Além de investimentos próprios, como fez Roseli, outra alternativa para melhorar a conexão são as parcerias com as empresas de telecomunicação, que estão beneficiando os produtores, como o agropecuarista Normando Corral, que também é presidente da Famato. Ele conta que, em uma de suas propriedades, no município de Denise, onde cultiva 3.500 hectares de cana-de-açúcar, o sinal de internet não chega à lavoura. Mas a usina para quem vende a produção está trabalhando em parceria com uma operadora para espalhar mais torres e ampliar o sinal para toda a área agricultável da região.

“Hoje é essencial ter internet no campo, principalmente por causa da tecnologia embarcada nas máquinas”
Normando Corral, presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso
Crédito de foto: Famato
“Hoje é essencial ter internet no campo, principalmente por causa da tecnologia embarcada nas máquinas”
Normando Corral, presidente da Federação da Agricultura de Mato Grosso
Crédito de foto: Famato

“Hoje, é essencial ter cobertura de internet no campo, principalmente para a tecnologia embarcada das máquinas. A gente consegue saber em tempo real o que está acontecendo e, se tiver algum erro, corrige na hora. Antes, a gente só conseguiria saber no fim do dia de trabalho. Para ter controle rigoroso, é preciso conectividade”, afirma o produtor. “Mas ainda não tenho cobertura em 100% da lavoura. Este é o nosso desafio.”

Corral destaca a importância da conectividade durante a colheita. “Se você está colhendo em uma área de grande produtividade, a máquina precisa estar em velocidade reduzida, para não perder a qualidade do corte da cana e não arrancar a soqueira, o que compromete a safra seguinte, porque não terá a rebrota dessa planta”, explica. Por outro lado, em áreas de baixa produtividade, se a velocidade estiver lenta, a máquina vai trabalhar ociosa, gastando mais combustível e aumentando o custo da colheita. “Por isso a necessidade de agir rápido.”

“Tecnologias digitais entram para agricultor produzir mais, utilizando menos recursos”
Edson Bolfe, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária
Crédito de foto: Embrapa
“Tecnologias digitais entram para agricultor produzir mais, utilizando menos recursos”
Edson Bolfe, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária
Crédito de foto: Embrapa

De forma geral, os produtores sentem os benefícios de estar conectados à internet, mesmo que o sinal chegue apenas à sede, aponta a pesquisa. São benefícios como retenção de funcionários (22%), controle de estoque (18%), monitoramento de operações agrícolas (17%), compras online (16%), monitoramento do clima (14%) e segurança na fazenda (13%). Pode parecer estranho, ressalta Latorraca, mas muita gente só aceita trabalhar na fazenda se ela tiver sinal de internet.

“Outro dado importante é que 61% dos produtores utilizam algum tipo de aplicativo ou software, principalmente para gestão da propriedade, previsão do tempo e manejo de pragas e doenças”, destaca Latorraca. Além disso, 35% fazem compras de insumos por meio de plataformas digitais. “Já para vendas de produtos de maneira virtual, a prática é menos frequente. Apenas 23% dos agricultores adotam essa modalidade.”

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