Tabelamento do frete reduzirá a plantação de soja

30 de agosto de 2018 5 mins. de leitura
Para Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Aprosoja Brasil, a lei é desastrosa e vai provocar redução na produtividade das lavouras brasileiras
Para Bartolomeu Braz Pereira, tabela de frete é um tiro no pé | Foto: Laura de Paula/Aprosoja-GO.
O Brasil tinha tudo para estar comemorando. A disputa comercial entre Estados Unidos e China aumentou a demanda do país asiático pela soja nacional, elevando o prêmio pago pelos chineses pela commodity nos portos brasileiros. Isso, aliado à alta do dólar no momento da venda, fez com que a Aprosoja Brasil projetasse crescimento de 5% na área de soja da safra verão 2018/2019, que começa a ser plantada em setembro. Mas o cenário se alterou completamente. Agora, a previsão mais otimista fala na manutenção da área, já a mais realista cogita sua redução. Isso em decorrência da greve dos caminhoneiros e da sanção da lei do tabelamento do frete, que gerou insegurança jurídica, aumentou os custos de produção e deve resultar em menor uso de tecnologia por parte do agricultor. Aliás, os gargalos e as soluções na logística serão alguns dos temas debatidos em um dos seis painéis do Summit Agro 2018, a ser realizado em 13 de novembro no Hotel Hilton, em São Paulo. Abaixo, confira os principais trechos da entrevista com o presidente da Aprosoja Brasil. Qual é o efeito da sanção da lei do frete para o segmento de grãos? É desastroso, tira a competitividade dos grãos que precisam muito de logística. Nossos modais de transporte de carga são muito fracos em relação aos de outros países agrícolas. O custo para a cadeia produtiva aumentará de 10% a 30%, dependendo da região. O preço do frete do milho, em anos de grande oferta, chega a ser mais alto que o próprio produto. Com essa situação, o impacto vai ser ainda maior. O tabelamento é um negócio arcaico, que não combina com a dinâmica do mercado de grãos e traz desequilíbrio e insegurança jurídica para os compradores. Em relação aos Estados Unidos, quanto o custo logístico brasileiro é mais caro? É muito mais caro. Nos Estados Unidos, na Argentina, o custo de 1 tonelada de soja está entre US$ 20 e US$ 30. No Brasil, atualmente, passa de US$ 100. Qual é o reflexo imediato? O produtor está recebendo menos pelo grão devido a essa situação e o preço do óleo de soja na gôndola do supermercado subiu entre 20% e 30%. Tanto o preço do óleo, como do feijão e do leite, produtos que precisam muito de logística. O produtor está perdendo por estar vendendo num valor mais baixo e o consumidor está comprando mais caro. Isso gera inflação e prejudica o crescimento do Brasil. Como ficam as novas fronteiras agrícolas? A commodity soja é dinâmica e traz a interiorização da economia do Brasil. Os interiores se tornaram ricos devido à produção de soja, que vai à frente, abre as pastagens degradadas e faz a economia girar. Algumas regiões já estão consolidadas, mas essa decisão política desastrosa sobre o frete pode dificultar o desenvolvimento das novas fronteiras, como no Matopiba [acróstico para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia]. O cenário incerto está prejudicando a venda futura? Sim, além de afetar o mercado interno e externo, atrapalha muito o barter [modalidade em que o agricultor compra os insumos, comprometendo parte da produção futura de grãos], responsável pelo financiamento da lavoura. No momento, devido às incertezas do que irá acontecer pela frente, as empresas não estão colocando preços futuros, só fazem a venda física. Antes da greve dos caminhoneiros,a expectativa era de um aumento da área plantada de soja… Sim, previa-se aumentar em 5% a área plantada de soja, porque os mercados estavam favoráveis e havia maior demanda em razão da disputa comercial China x Estados Unidos. Mas a questão do frete paralisou os negócios futuros, sobretudo as vendas de insumos. Devemos manter ou até mesmo diminuir a área plantada. E há um ponto mais crítico: o Brasil pode reduzir a produtividade por hectare por falta de investimento tecnológico, insumos e fertilizantes. Agricultores, cooperativas e tradings estão falando em comprar frota própria de caminhões. De fato, isso já está acontecendo. Com este tabelamento, o agricultor está vendo que vai ganhar mais puxando a soja dele do que produzindo. Ele está buscando formas de comprar caminhão para se tornar competitivo. Ele vai ter que produzir o grão e também entregar. Mas, caso a tabela venha a cair no futuro, teremos mais caminhões ociosos, porque tudo isso é reflexo de uma política desastrosa do governo de incentivar a compra de caminhões por autônomos. Todo mundo saiu comprando caminhão, aumentou a oferta e o preço do frete caiu. O que levou a essa situação? Um governo fraco, sem credibilidade, que ficou refém da categoria. O transporte rodoviário é responsável por 60% da circulação de cargas do País. O governo ficou com medo e cedeu a tudo. Deixar de cobrar pelo terceiro eixo suspenso dos caminhões, tudo bem, porque é o governo que vai pagar às concessionárias. Abaixar o preço do combustível também, porque a Petrobras é uma estatal. Mas ele jogou o tabelamento de frete para o setor privado. Se ele quisesse fazer, criasse uma tabela de referência e cobrisse os custos dos caminhoneiros. É possível que o ministro Luiz Fux reverta isso no julgamento das ADIs? Sim, acreditamos que ele vá tomar uma decisão, mesmo pressionado. Estamos esperando o julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade porque acreditamos nas instituições e o próprio Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] passou um relatório ao STF [Supremo Tribunal Federal] em que diz que a tabela do frete é inconstitucional.

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