“Não somos anti-China nem pró-China”

28 de março de 2019 5 mins. de leitura
Esta é a posição da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, segundo Flávio Bettarello, secretário adjunto da pasta
“Brasil vê a China com neutralidade”, diz Flávio Bettarello
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) tem manifestado preocupação quanto à atenção que o governo brasileiro tem dispensado à China, principal parceiro comercial brasileiro. Muitos alegam que o Brasil vem jogando o gigante asiático para escanteio. No entanto, a pasta responsável no Ministério da Agricultura diz que o governo vê a China com neutralidade e almeja abrir novos mercados como maneira de se precaver de possíveis oscilações de tendências. Abaixo, os principais trechos da entrevista com o secretário adjunto da pasta, Flávio Bettarello. Quais os principais desafios frente à Secretaria? Um dos desafios está expresso na mudança do nome da Secretaria, que era Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio e passou a ser Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. O acréscimo da palavra comércio não foi ao acaso. Nossa orientação é focar nas relações comerciais. Tiramos o termo agronegócio, porque passava a ideia de estar focado apenas nas grandes culturas. Mas não, nosso objetivo é abarcar todos os setores, como produtos da agricultura familiar, pescados, produtos florestais. Como o Brasil vai se relacionar com a China? O Brasil vai manter o seu relacionamento comercial com a China, que é o principal mercado de vários produtos brasileiros. Estamos em contato com as autoridades chinesas e queremos ampliar o comércio. Não somos anti-China, como estão dizendo, pelo fato de as primeiras missões anunciadas pelo Ministério terem sido Japão e o sudeste asiático. Foi uma questão de agenda externa. A reunião do G-20 com os vice-ministros da Agricultura, em Tóquio, já estava marcada. Inclusive, a ministra Tereza Cristina anunciou que fará uma visita à China em breve. Não existe um posicionamento anti-China? Não temos um posicionamento nem anti-China nem pró-China. Nós vemos o país com neutralidade. Damos a importância que eles têm, como nosso principal destino. Nossa estratégia é buscar diversificar os parceiros, o que não significa que é uma represália à China. É uma ação para aumentar a resiliência do sistema. Obviamente, não se pode ter uma grande concentração num só mercado. Independentemente do nome do país, uma forma de nos precavermos de eventuais oscilações e reversões de tendências é a diversificação de destinos. Não existe uma predileção pela China, mas também não existe um antagonismo. Qual o foco da missão que foi para o Japão? O secretário de Comércio e Relações Internacionais, Orlando Leite Ribeiro, acabou de voltar, e não conversamos em detalhes. Mas a carne bovina brasileira seria uma das questões tratadas. No ano passado, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) reconheceu o Brasil como livre de aftosa com vacinação. O Japão compra carne bovina de países que têm esse mesmo status sanitário, como o Uruguai, mas ainda não compra do Brasil. Bolsonaro se elegeu dizendo que abrirá novos mercados. Quais são os prioritários para o agro? Não falamos em países prioritários. Nosso lema é manter e ampliar nossa presença comercial vigente e aproveitar as oportunidades, conforme forem surgindo, para abrir novos mercados e diversificar os países para os quais o Brasil exporta. Como está o relacionamento do governo com o mundo árabe, tendo em vista que países muçulmanos podem reagir à possibilidade de transferência da embaixada brasileira, em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém? No campo da agricultura, não há nenhuma manifestação oficial das autoridades com quem temos falado sobre retaliações em função de declarações do presidente Jair Bolsonaro enquanto candidato à presidência. O que ouvimos foram declarações de câmaras de comércio, especulativas, sobre possíveis reações negativas de consumidores finais. Nossas tratativas com os países muçulmanos são amistosas, e eles compram produtos de valor agregado, como carne de aves. Estamos acertando a agenda, porque a ministra Tereza Cristina quer visitar a Arábia Saudita, que deixou de assinar o pre-listing [acordo que habilitava, por amostragem, os frigoríficos de aves brasileiros que exportavam para lá e cujo cancelamento acarretou a exclusão de cinco de 30 exportadores brasileiros]. Vamos avançar tratativas sanitárias com eles. No que se refere ao agronegócio, como estão as negociações para o acordo Mercosul – União Europeia? Estão caminhando bem. Quando o acordo for firmado, ele deve intensificar a venda de produtos brasileiros já exportados para Europa, como carnes e suco de laranja, e também abrir novas frentes com cachaça, café solúvel e frutas. Alguns setores do agro, como a fruticultura, são contra um acordo multilateral. Eles defendem um acordo bilateral, aos moldes que o Chile tem com a União Europeia… O direcionamento que temos, hoje, é para um acordo do Mercosul em bloco. Não está em discussão um acordo bilateral com a União Europeia.

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