“As cooperativas são fundamentais para garantir a rentabilidade do produtor”

31 de maio de 2017 6 mins. de leitura
Edivaldo Del Grande, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp), ressalta a importância do cooperativismo para a manutenção do pequeno agricultor no campo Com o encerramento das atividades da Embrater, empresa de assistência técnica e extensão rural, no governo de Fernando Collor de Melo – o campo ficou carente de profissionais […]

Edivaldo Del Grande, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp), ressalta a importância do cooperativismo para a manutenção do pequeno agricultor no campo

Com o encerramento das atividades da Embrater, empresa de assistência técnica e extensão rural, no governo de Fernando Collor de Melo – o campo ficou carente de profissionais para fazer a ponte entre o produtor rural e as pesquisas desenvolvidas por órgãos como a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Este papel de transferir as novas tecnologias ao agricultor passou a ser feito pelos técnicos das cooperativas agropecuárias, que têm por finalidade ajudar o cooperado a gerir melhor sua propriedade e aumentar a renda. Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Edivaldo Del Grande, que está à frente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo. Como está o cooperativismo em São Paulo?  São 115 mil cooperados, 145 cooperativas. Hoje temos cooperativas de flores, cooperativas que produzem cana-de-açúcar, soja, milho. Algumas de agricultura familiar produzindo desde uva, verduras, até a Coopercitrus, que é uma grande revenda, e a Coplana, que armazena e é uma especialista em amendoim – aliás, uma das maiores exportadoras do País. Em São Paulo, elas movimentaram R$ 22 bilhões. Deste montante, R$ 10 bilhões são do grupo de cooperativas monitoradas, que distribuíram sobras da ordem de R$ 60 milhões. Qual é o perfil do cooperado?  80% é pequeno agricultor com até 28 hectares. O grande consegue ter uma estrutura própria. Quem precisa de amparo é o pequeno e mini agricultor, mas isso não significa que não há grandes produtores cooperados. A Coopercitrus é uma mescla, principalmente em São Paulo. Tem gente que acha que São Paulo tem grandes latifúndios e não é verdade. São Paulo tem pequenos produtores com alta produtividade. Como as cooperativas ajudam os agricultores a aumentar a renda?  Cooperativas, principalmente as agropecuárias, são grandes operadores logísticos. Elas têm o produto certo, na quantidade correta e no tempo certo. Este é o primeiro foco. Na época do meu pai, ele comprava adubo para a soja, que na verdade era adubo de arroz. O cara da revenda trocava a etiqueta e vendia, porque o adubo de arroz era mais barato que o da soja. Uma boa cooperativa não permitiria isso. Ela checa a qualidade das sementes que os institutos de pesquisa desenvolveram e diz qual é o material compatível com a região. Antigamente quem fazia isso eram as Casas de Agricultura, que foram extintas. Essa extensão rural, de olhar a pesquisa e implantar no campo, quem faz são os técnicos das cooperativas. Além disso, as cooperativas beneficiam os grãos e os preparam para a venda. O trabalho das cooperativas é fundamental para garantir a rentabilidade e manter o produtor no setor produtivo com dignidade econômica. Quais as vantagens de estar na cooperativa?  Cooperativa não foi feita para dar lucro. Ela não pode dar prejuízo. Se der prejuízo, o cooperado tem que pagar e, se tiver sobras, o cooperado recebe de volta. A grande diferença é o modelo societário cooperativo. Quando há um negócio regido por um investidor, ele coloca dinheiro enquanto estiver dando lucro. A partir do momento que para de dar lucro, ele tira o dinheiro e vai para outro lugar. As cooperativas não são de investidores, elas são feitas para ser um empreendimento sustentável e perene. Em lugares como cinturão verde da cidade de São Paulo, os produtores têm resistência ao cooperativismo por conta de cooperativas como Cotia, que fecharam as portas…  Foi um trauma grande, mas é importante entender por que as cooperativas não deram certo. A Cotia não estava quebrada, ela tinha dinheiro para tocar, tinha crédito. Na verdade, foi uma decisão equivocada da assembleia, em função da falta de capacidade das pessoas da diretoria que saíram da base. O que vocês têm feito para capacitar os gestores?  Com o advindo do Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), isso é um tema superado. A maioria dos diretores têm algum tipo de formação e pós-graduação. A gente oferece desde cursos básicos de cooperativismo, de calculadora HP até MBA em gestão empresarial para dirigentes de cooperativas. E quando foi criado o Sescoop?  Em 1999, quando o setor agropecuário estava numa situação de alto endividamento causado pelas mudanças na economia. Do dia para noite, a dívida das cooperativas aumentou muito e a falta de capacidade de gestão fez o cenário piorar. Passado algum tempo, o governo reconheceu que a política econômica mal gerida foi a responsável pela crise. O Governo Federal criou um programa de refinanciamento para aquelas dívidas chamado Programa de Revitalização das Cooperativas Agropecuárias (Recoop). Como contrapartida, exigiu a criação de instrumentos para melhorar a capacidade de gestão das cooperativas. Assim foi criado o Sescoop. Até então, as cooperativas recolhiam para o Senar, Sebrae e Senai. O Sescoop começou a trabalhar na capacitação para a melhoria do processo de gestão das cooperativas e também no monitoramento, checando se as cooperativas que estão sendo criadas têm conformidade legal ou estão sendo formadas apenas para fugir de impostos. O que vocês fazem com uma cooperativa que usa o modelo societário para burlar a lei?  Não temos poder de polícia, mas a lei 5.764 diz que todas as cooperativas têm que estar registradas no sistema. Mas elas vão na junta comercial e conseguem o registro, o CNPJ como cooperativa. Eles deveriam nos consultar porque não têm expertise, mas não fazem isso. Muitos montam a cooperativa, começam a funcionar e depois vêm pedir o registro. Checamos se está tudo dentro da conformidade, se não estiver, pedimos para se adequar. A Coaf [cooperativa envolvida no escândalo da merenda escolar no Estado de São Paulo] não conseguiu o registro. Ela tinha incoerências no estatuto, pedimos para regularizar e não voltaram mais. Aí está o problema: se para funcionar a cooperativa tem que ter registro no sistema, a Coaf não poderia ter funcionado e não teríamos todo este problema. O registro no sistema poderia funcionar como um certificado que a cooperativa está conforme a legislação cooperativista.  

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