Usina paulista cria seu próprio “Waze” para controlar frota

31 de dezembro de 2019 4 mins. de leitura
Com uma rede de internet 4G privada, a São Martinho monitora o tráfego de caminhões entre fazendas e indústria

Durante a abertura do Summit Agronegócio 2019, evento organizado pelo Estadão em novembro, o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Gustavo Junqueira, destacou a importância da ciência e da tecnologia para que o agronegócio dê um novo salto de produtividade.

Na ocasião, ele citou a São Martinho – uma das maiores usinas sucroenergéticas do mundo, situada em Pradópolis (SP) – e explicou o desafio que eles superaram para manter a qualidade da cana-de-açúcar. “Hoje, eles têm a própria rede 4G, que permite ter um ‘Waze’ privado para gerenciar a logística [de entrega da matéria-prima].

Agora a usina já sabe que o caminhão está chegando e com quantas toneladas está carregado”, disse Junqueira. De fato, a São Martinho tem um sistema de controle e otimização da logística que vem sendo desenvolvido em parceria com a empresa Hexagon.


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“Consiste na otimização dos despachos dos caminhões, com o software logístico sendo atualizado de maneira online, com o posicionamento de cada veículo, o tempo de cada atividade que está sendo executada, as distâncias percorridas e aquelas que ainda faltam percorrer”, explica Walter Maccheroni, gestor de Inovação da usina.

Para que isso fosse possível, terminais inteligentes veiculares (TIVs) foram instalados nos caminhões e demais equipamentos agrícolas. Esses terminais permitem aos veículos – via computador de bordo – receber informações sobre as melhores rotas entre as fazendas e a indústria.

Se o operador desvia da rota, ultrapassa a velocidade ou infringe qualquer outro parâmetro estabelecido, alarmes e alertas são exibidos no computador de bordo do caminhão, e tudo é controlado pela Central de Operações Logísticas (COA) da usina.

Cientistas de dados, empresas e startups analisam os dados coletados no Ecossistema São Martinho de Inovação

Essa gestão de frota em tempo real só se tornou realidade graças à conectividade, que era um gargalo para a São Martinho até 2014. Para solucionar o problema, a usina buscou parcerias e deu início a um projeto de três anos, orçado em R$ 60 milhões, com o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) e apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

A decisão foi pela instalação de uma rede privada de internet com 30 km de raio. Seis estações rádio base (ERBs) instaladas em seis torres de comunicação cobrem os 135 mil hectares de área agrícola da São Martinho.

Big Data Rural

Hoje 700 equipamentos da usina estão conectados.“Os dados telemétricos das máquinas e demais ativos agrícolas, bem como voz e vídeo, são transmitidos de torre a torre até chegarem à COA por meio de rádios digitais ponto a ponto”, explica Maccheroni.

“Com o sistema, além de diminuir o consumo de insumos e combustível, reduzimos os riscos para os nossos colaboradores”, diz Walter Maccheroni, gestor de Inovação da usina

“Esses dados são armazenados nos provedores e nuvens da empresa, formando um grande ‘big data’ São Martinho, que agora está sendo explorado pelos seus cientistas de dados e por empresas e startups que formam o Ecossistema São Martinho de Inovação”, acrescenta o gestor.

A conectividade permitiu a gestão em tempo real e, consequentemente, o controle fino dos processos e a redução dos custos operacionais. “Com o sistema de alertas, além de reduzir o consumo de insumos agrícolas e combustível, reduzimos os riscos para os nossos colaboradores diretos e indiretos”, diz Maccheroni.

Por ora, só a sede da usina São Martinho tem internet privada instalada. Mas, a partir de abril de 2020, as outras três unidades do grupo também terão a rede 4G exclusiva implantada.

Por Lívia Andrade

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