Conheça os mais recentes robôs que aumentam a produtividade rural

27 de novembro de 2019 7 mins. de leitura
Nova safra de máquinas e sensores leva precisão e rapidez ao trabalho pesado no campo

Em um processo iniciado há cerca de 15 anos, hoje a agricultura de precisão, as colheitadeiras, tratores e máquinas que usam GPS (sistema de posição global, na tradução para o português), os dispositivos tecnológicos para o campo, a utilização de drones, sensores e satélites vêm promovendo uma verdadeira revolução na maneira de plantar, produzir, colher e gerir uma propriedade rural.

Máquinas e sensores fazem o trabalho pesado e apresentam ganhos de precisão, rapidez e produtividade; o robô Rubion (acima), da Belga Octinion, colhe morangos (Foto: divulgação)

“Agora estamos no meio do processo de inserção do máximo de tecnologias possível, usando sensor em laboratório, sensor que vai na mão do agricultor no campo, sensor que vai no drone, sensor que vai no trator e mede a planta para dizer quanto joga de nitrogênio e interpretação de imagem de satélite”, diz José Alexandre Demattê, professor de Sensoriamento Remoto da Esalq, USP Piracicaba.

O Brasil segue o exemplo dos países desenvolvidos do hemisfério norte. Aqui, a disseminação desse arcabouço tecnológico foi impulsionada pelo êxodo rural e pela dificuldade, cada ano maior, de encontrar pessoas para fazer os trabalhos braçais, como colher, capinar, pulverizar etc.


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Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre o Censo Agropecuário de 2006 e o de 2017, o setor agropecuário perdeu 1,5 milhão de trabalhadores. Esse quadro estimulou produtores e empresários rurais a buscar inovações para solucionar os gargalos do campo. E, ao mesmo tempo, reduzir custos e aumentar a produtividade.

Entre as novidades tecnológicas mais recentes, o Caderno Agro traz quatro exemplos de robôs que estão transformando as plantações de morango, maçã, alface e, no Brasil, o descarregamento de uva. Além disso, apresenta tecnologias que já ajudam os agricultores a produzir mais, melhor, otimizando os recursos e preservando o meio ambiente.

Colheita sem contato manual

Para resolver gargalos como a escassez de mão de obra, a empresa belga Octinion lançou neste ano o Rubion, um robô colhedor de morangos. Resultado de cinco anos de pesquisa e desenvolvimento, a máquina percorre a plantação, detecta os frutos maduros e colhe sem machucar os morangos, o que aumenta a qualidade.

“Graças à robótica, temos muitas possibilidades, mais do que um humano poderia fazer. Podemos programar a colheita de acordo com as necessidades do mercado, escolhendo quando os frutos estão maduros, em vez de quando os trabalhadores estão disponíveis”, diz Tom Coen, CEO da Octinion. “O consumidor notará a diferença, pois os morangos serão mais frescos e terão menos machucados”, acrescenta.

O Rubion não é o único otimizador de colheita. Há alguns anos, a Austrália e a Nova Zelândia vêm testando robôs apanhadores de maçãs, que colhem o fruto por sucção. Até o momento, a inovação desenvolvida pela californiana Abundant Robotic teve bom desempenho em terrenos planos. Por enquanto, o robô não substituirá toda a força de trabalho humana, mas será um reforço na colheita.

Vinícola Aurora implantou robôs que descarregam os bins, caixas que comportam 400 quilos de uva (Foto: Divulgação)

Agilidade no descarregamento

No Brasil, a cooperativa vinícola Aurora implementou em 2018 os robôs descarregadores de bins, caixas de plástico que comportam em média 400 quilos de uva cada uma. A inspiração surgiu de uma missão de Itacir Pedro Pozza, presidente do Conselho de Administração da Aurora, à Europa. Na volta, ele importou dois robôs alemães usados na indústria automotiva.

A empresa gaúcha Mesal fez a montagem e a implantação do sistema de automação. Cada robô tem potencial de descarregar três bins por minuto. “Antes, 12 pessoas ajudavam a descarregar o caminhão. Hoje, as uvas chegam ao pátio de recepção, e ninguém põe a mão”, diz Pozza. É tudo automatizado: o robô pega o bin, tomba na balança e devolve higienizado ao caminhão.

Hoje, metade das uvas recebidas é descarregada por robôs; a outra metade ainda chega em caixas convencionais, que comportam cerca de 18 quilos e são descarregadas por safristas. Não deve demorar muito para a Aurora recuperar os R$ 10 milhões investidos na importação e automação dos robôs. O gasto anual da cooperativa com a contratação de safristas era de R$ 3 milhões.

Robô Dino, da francesa Naïo Technologies, faz corte mecânico de ervas daninhas (Foto: Divulgação)

Caçador de ervas daninhas

O Dino, um robô voltado ao controle de ervas daninhas em plantações de vegetais orgânicos, é outra novidade tecnológica. A inovação foi apresentada na Agritechnica – a maior feira de maquinários agrícolas do mundo, que aconteceu este mês em Hannover, na Alemanha – e recebeu uma das 39 medalhas de prata dadas no evento.

Desenvolvido pela francesa Naïo Technologies, o Dino faz o controle mecânico de plantas invasoras, o que é uma grande vantagem, uma vez que a remoção manual é uma das maiores dificuldades do plantio de alface, por exemplo. O robô caminha entre as fileiras de hortaliças, localiza onde está a erva daninha e ativa duas facas elétricas, que cortam as plantas invasoras entre as cabeças de alface.

Imagens de satélite identificam a localidade de onde foi retirada a amostra de terra para análise, com sensor, em laboratório; procedimento permite mapeamento remoto dos tipos de solo do Brasil

Sanidade do solo e das frutas

Cada vez mais, a agricultura moderna conta com uma infinidade de sensores, cada um com uma finalidade. Nos maquinários agrícolas, esses dispositivos controlam temperatura, pressão, velocidade, ajudam a mapear o solo, avaliam o mato para decidir a quantidade de herbicida que deve ser aplicado, tudo em tempo real.

Na fruticultura, os sensores conseguem aferir a sanidade do fruto. Há 27 anos, o professor José Alexandre Demattê, da Esalq, USP Piracicaba, começou os estudos para identificar as características do solo a partir de um sensor. “Eu pego uma amostra de terra do campo, trago para o laboratório e jogo uma luz em cima dela. Essa luz emite ondas e, em função delas, eu consigo detectar o que o solo tem”, explica o pesquisador.

A técnica tem várias vantagens. A primeira é ser limpa, diferentemente das análises convencionais de laboratórios com reagentes químicos. “A ideia não é substituir os laboratórios, pois são eles que ditam o padrão, mas otimizar o trabalho que fazem com os sensores”, diz.

O segundo ganho é o mapeamento remoto. “Nós pegamos uma imagem de satélite de onde foi coletada a amostra e detectamos o que o solo tem. Já conseguimos ver os tipos de terra, de solo e teor de argila do Brasil quase inteiro”, finaliza o professor.

Por Lívia Andrade

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