Colhedoras de café “made in Brazil”

31 de agosto de 2017 4 mins. de leitura
Desenvolvidas no País, elas ajudam agricultores a aumentar a eficiência e reduzir custos de produção
Mecanização: a brasileira Jacto lançou a primeira colhedora de café do mundo em 1979 (Foto: divulgação)
Era início dos anos 70, quando o então secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Paulo da Rocha Camargo, desafiou Shunji Nishimura, fundador da Jacto, empresa de máquinas agrícolas com sede em Pompéia (SP), a inventar um maquinário para mecanizar a colheita de café, etapa que mais pesa nos custos de produção de uma fazenda cafeeira. “Ele aceitou o desafio e contratou novos engenheiros, mas os resultados iniciais não foram bons, foi baixa a e_ ciência da derriça”, conta João Rafael Alves, engenheiro responsável pela área de Planejamento de Produto a linha de colhedoras de café da Jacto. Vencida essa etapa, em 1975 a empresa chegou a uma máquina tracionada por um trator, que obteve índices de derriça superior a 97%. Mas o lançamento o oficial da primeira colhedora de café do mundo foi em junho de 1979. Quase quatro décadas depois, as máquinas se tornaram sinônimo de eficiência e alta produção. “Com a carência crescente de mão de obra no campo, a partir da segunda metade da década passada, o mercado começou a caminhar consistentemente”, diz Alves. Hoje, a colheita mecanizada é muito difundida nas regiões de café arábica, sobretudo em Minas Gerais (Sul de Minas e Cerrado Mineiro), São Paulo (região da Alta Mogiana), Bahia e Paraná. “A máquina tem o rendimento de 1.200 a 1.500 metros por hora e, em oito horas, realiza o serviço de 80 a 100 trabalhadores padrão”, diz Fábio Raimundo, gerente comercial da Pinhalense, fabricante de máquinas para processamento de café que lançou sua colhedora em 2014. De acordo com dados da Pinhalense, a mecanização reduz as perdas da colheita de café para índices entre 1,5 e 3% e ajuda na qualidade final do grão. Isso por causa do princípio de funcionamento da colhedora – a derriça é feita por hastes vibratórias que derrubam o fruto sem prejudica-lo e sem danificar a árvore– e também por causa da possibilidade do maquinário passar mais de uma vez na mesma lavoura colhendo apenas os frutos maduros. A colhedora possui um vão livre central com dois rolos laterais de hastes vibratórias horizontais cuja intensidade pode ser regulada (café verde demanda vibração forte, já no maduro, ela pode ser leve). Os rolos são bastante flexíveis, uma vez que os pés de café variam de tamanho e muitas lavouras são adensadas. Ao entrar pela rua de café, as hastes da colhedora vibram e derrubam os grãos, que vão para dois tanques de armazenamento. A capacidade deles varia de 1.800 litros a 4.000 litros de café, dependendo do fabricante. Quando estão cheios, uma carreta se aproxima e o transbordo é feito automaticamente, sem a necessidade de parar a colheita. A velocidade da máquina na lavoura precisa ser controlada para evitar que o café caia no chão, o que pode comprometer a qualidade. “Há várias vertentes de colheitas. Alguns produtores do Cerrado Mineiro iniciam mais cedo e fazem a coleta seletiva com duas ou três repassadas sempre focando o café maduro. Em outras regiões, os produtores aguardam mais tempo e fazem uma colheita única”, diz Raimundo. Há dois grupos de colhedoras, as tracionadas, em que um trator faz o trabalho de puxar a colhedora e as automotrizes, que possuem o mecanismo de força motriz. No último caso, as rodas têm uma capacidade de giro em torno de 90º, o que facilita as manobras em pequenos espaços. Em relação à declividade, elas trabalham em terrenos com inclinação de 20% a 30%. Isso graças ao sistema hidráulico que permite a inclinação sem risco a segurança do operador. As colhedoras também possuem sensores e câmeras que permitem o monitoramento de toda a operação de colheita. Algumas marcas, como a Jacto, estão desenvolvendo modelos no conceito de plataforma multifuncional. O objetivo é que, além da colheita, o maquinário tenha módulos que permitam a pulverização e a poda. “A opção por veículos modulares, aptos para trabalhar em várias operações, é uma tendência no setor agrícola”, finaliza o engenheiro da Jacto.

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