Raio X da pecuária brasileira

31 de outubro de 2018 4 mins. de leitura
O 8º Rally da Pecuária, expedição técnica que avalia as condições da bovinocultura de corte no País, revela que a produtividade aumentou para 10,3 arrobas por hectare/ano. Os pecuaristas, porém, ainda têm muito a melhorar
A produtividade média do público visitado pelo 8º Rally da Pecuária, expedição técnica privada organizada pelas consultorias Agroconsult e Athenagro, subiu de 8,3 arrobas por hectare/ano, em 2017, para 10,3 arrobas/ ano em 2018. O índice é medido em ciclo completo, ou seja, em pecuaristas que trabalham com cria, recria e engorda. “A produtividade média do Brasil está em 4,5 arrobas por hectare/ano; a do Rally é o dobro da nacional, mas também é baixa se comparada com os 25% de pecuaristas mais eficientes, que produzem 36 arrobas por hectare/ano”, explica Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária. O aumento de produtividade é atribuído à decisão dos pecuaristas, que, mesmo com margens reduzidas, não reduziram o pacote tecnológico aplicado à atividade. A expedição, que avalia a pecuária de corte nacional, percorreu, entre 18 de junho e 31 de agosto deste ano, 57,3 mil quilômetros em 11 estados. As equipes do 8º Rally visitaram 128 fazendas, interagiram com mais de 1.600 produtores e analisaram 158 amostras de pastagens. O resultado revela um Brasil de contrastes, evidenciado pelo gráfico que divide o público em quatro grupos, de acordo com a produtividade (veja abaixo). A parcela de pecuaristas mais produtivos produz 36 arrobas por hectare/ano. São criadores que investem em tecnologia, como genética do rebanho; em adubação e manejo de pastagem; e em complementação alimentar, sobretudo no período de seca e terminação intensiva a pasto (TIP) ou confinamento nos últimos 100 dias. Eles costumam enviar o gado para o abate com cerca de 2 anos e possuem controle minucioso de custos e da gestão da fazenda. Na outra ponta, os pecuaristas menos produtivos apresentam índice de 2,41 arrobas por hectare/ano. Eles fazem a chamada pecuária extensiva e deixam o gado no pasto para engordar, mas não adubam nem se preocupam com o manejo da pastagem. Muitos deles também não oferecem complementação alimentar no período de seca, quando a pastagem fica escassa. Assim, o gado leva cerca de cinco anos para ganhar peso e ir ao abate. Esses produtores não possuem controle de custos ou ferramentas de gestão na propriedade. CONCENTRAÇÃO DO SETOR O rebanho bovino comercial do Brasil, segundo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), é o maior do mundo, com 220 milhões de cabeças em 2017. De acordo com a Athenagro, a pecuária passa a ser competitiva em relação à agricultura quando a atividade em ciclo com pleto ultrapassa 20 arrobas por hectare/ano, índice que coloca boa parte dos produtores brasileiros em uma situação delicada. “A tendência é eles não suportarem a queda de margem em uma atividade de baixa rentabilidade. Os mais eficientes tendem a colocar mais produtos no mercado e, ao longo dos anos, os preços devem se ajustar a eles, que sustentam preços mais baixos. Produtores com baixa produtividade não resistem, sucateiam a fazenda e tendem a ficar sem recursos para honrar as contas”, diz Nogueira. As informações levantadas pelo Rally da Pecuária mostram a necessidade de políticas públicas que disseminem novas tecnologias a esses pecuaristas, evitando que sejam excluídos da atividade. Além disso, a expedição evidenciou a necessidade de investimento em gestão nas propriedades rurais. Sem um acurado controle gerencial, o criador não tem como comprovar a rentabilidade, melhorar a eficiência e obter financiamentos. Não por acaso, a JBS – uma das patrocinadoras do Rally – escolheu o tema como foco de sua comunicação com os produtores este ano. “Sem gestão, eles não percebem o que deve ser feito”, comenta Fábio Dias, diretor de Relacionamento com o Pecuarista da divisão de Carnes da JBS.

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