Lei complementar de agosto de 2010 substituirá o Fundo de Estabilidade do Seguro Rural (FESR), que não tem atendido as necessidades do mercado
A maior parte dos representantes do agronegócio brasileiro acredita que o seguro rural deve ser prioridade na política agrícola nacional. Atualmente, apenas 15% da área plantada é segurada e os valores destinados ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) não contemplam nem metade da necessidade. Neste cenário, o Fundo de Catástrofe – lei complementar de agosto de 2010, que aguarda regulamentação – surge como uma ferramenta para alavancar o seguro rural no País ao substituir Fundo de Estabilidade do Seguro Rural (FESR). “O mecanismo (FESR) sofre com dificuldades de acesso aos recursos do orçamento da União e uma das críticas do mercado a ele é o fato de não ter recursos suficientes para garantir a estabilidade do seguro rural”, diz Wady Cury, diretor geral do Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre.
Hoje, o seguro rural é concedido aos produtores por intermédio das seguradoras contratadas pelo Ministério da Agricultura. Elas, por sua vez, firmam contratos com esses agricultores e, geralmente, assumem 10% do risco de produção. As resseguradoras ficam com a maior parte do risco e compromisso de indenizar as seguradoras por danos que possam acontecer em função das apólices de seguro. Além disso, existe o FESR, que tem por objetivo garantir o equilíbrio das operações agrícolas e oferecer cobertura suplementar para as seguradoras em decorrência de catástrofes climáticas. “Funciona como um resseguro para as seguradoras que proveem o seguro rural. Ao final do ano fiscal, as seguradoras apuram o resultado. Se for positivo, elas contribuem com o FESR em 30% ou 50% dependendo do ramo. Se for negativo, o FESR as indeniza de acordo com uma tabela”, explicou em nota a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF), responsável pelo FESR.
A área segurada no Brasil corresponde a riscos da ordem de R$ 25 bilhões. O problema é que quando as seguradoras têm perdas e recorrem ao FESR, nem sempre há recursos disponíveis. As contribuições feitas pelas companhias não pertencem ao FESR, pertencem à conta da União, que cada ano tem uma dotação orçamentária. O mercado contribui e nem sempre tem contrapartida. “Este fundo se torna ineficaz nesse sentido, porque o objetivo dele não é cumprido no momento que precisa ser”, diz Vitor Ozaki, diretor de gestão de risco agropecuário da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
A reivindicação pela regulamentação do Fundo de Catástrofe é uma tentativa de solucionar a questão. Seria um fundo privado não atrelado às contas do governo. “Ele resolveria o problema de orçamento, porém não teria a garantia da União. As indenizações pelo Fundo Catástrofe ficariam restritas ao patrimônio do fundo”, explicou a ABGF. De acordo com Cury, o fato do Fundo de Catástrofe não ter saído do papel prejudica as seguradoras porque não dá aos segurados garantia de manutenção futura, de sustentabilidade. “É preciso criar um modelo do Fundo de Catástrofe para equalizar, estabilizar e, quando tiver severidade climática acima da série histórica, o fundo entrar para recuperar as seguradoras das perdas”, diz Cury.
Na opinião de Jose Cullen, diretor de seguro rural da Swiss Re, dependendo da forma que o Fundo de Catástrofe for implantado, pode ajudar na resolução dos gargalos, especialmente se os recursos arrecadados forem exclusivamente dele. “O Fundo de Catástrofe deveria operar em situações onde o mercado privado não tem condições de fazê-lo. Por exemplo, em eventos extremamente catastróficos ou atividades que não são ‘asseguráveis’, mas que resultam em alto impacto social”, afirma. O volume de recursos a ser aplicado pelo governo no fundo não está definido. “Mas a proposta é de um aporte inicial de R$ 4 bilhões, sendo R$ 2 bilhões na adesão. Na prática, o fundo ofereceria mais segurança às empresas que atuam nesse mercado, já que elas poderiam adquirir cotas de participação e utilizar seus recursos em caso de sinistros”, diz Cury. “Uma das funções é incentivar a oferta, uma vez que ele daria tranquilidade nos casos de eventos de grandes proporções, contribuindo para equalizarem as perdas, o que teria interferência na precificação do seguro”, finaliza do diretor geral do Grupo Segurador BB e Mapfre.
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72110cookie-checkFundo de Catástrofe aguarda regulamentação há sete anosno