Agrishow começa na próxima semana em clima de incerteza

24 de abril de 2019 8 mins. de leitura
Há dúvidas de como ficará o financiamento de máquinas agrícolas para o próximo Plano Safra, que começa em julho
Na próxima segunda começa a Agrishow, maior feira de tecnologia para o agronegócio da América Latina, que é considerada o termômetro para vendas de máquinas agrícolas no ano. O evento – que será realizado de 29 de abril a 3 de maio em Ribeirão Preto, no interior paulista – chega a sua 26ª edição num clima de tensão. Isso porque, às vésperas do início da feira, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendeu duas importantes linhas de financiamento: Moderfrota, categoria de crédito para máquinas e equipamentos agrícolas, e Inovagro, programa de financiamento para investimentos em inovação no setor. Mesmo assim, a previsão é de aumento no volume de negócios. “Estamos falando de algo em torno de R$ 2,7 bilhões este ano, um aumento entre 8% e 10%”, diz João Carlos Marchesan, presidente da Associação Brasileira da Indústria deMáquinas e Equipamentos (Abimaq), que tem 1.500 empresas associadas, 800 delas do ramo agrícola. A venda de maquinário para o setor está aquecida desde o final do ano passado. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), órgão que regula o setor, nos três primeiros meses deste ano, foram comercializadas 9.295 máquinas, uma alta de 23,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. O incremento na comercialização levou representantes do agro a se encontrarem com o presidente Jair Bolsonaro, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e três vezes com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para pedir recurso adicional ao Moderfrota, categoria de financiamentos com juros de 7,5% ao ano para produtores com faturamento anual até R$ 90 milhões e de 9,5% ao ano para quem estiver acima disso. O pleito era de R$ 3 bilhões, mas o setor só conseguiu R$ 475 milhões, verbas de linhas com baixa demanda que foram repassadas para o programa de modernização da frota agrícola. Para a Agrishow a questão foi remediada. “O Banco do Brasil está entrando com uma linha de R$ 500 milhões para a feira, uma espécie de Moderfrota BB com recursos próprios. Há também os recursos dos fundos constitucionais das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Toda venda para estes estados vai ser via fundos”, diz Marchesan. O problema será da Agrishow até o próximo ano safra, que começa em julho, o que dá cerca de 60 dias. Para esse período, o cálculo da Abimaq é que um adicional de R$ 2 bilhões seria suficiente, já que o desembolso semanal do Moderfrota tem sido na casa dos R$ 250 milhões. “Pedimos essa suplementação ao governo. Mesmo porque nós teríamos o prazer de receber o presidente Bolsonaro, que confirmou que estará no dia de inauguração na feira, junto com ministra [da Agricultura] Tereza Cristina. Eles não virão para serem cobrados. Esperamos que, até lá, tenhamos uma alternativa”, explica o presidente da Abimaq. CAMPO CONECTADO Reivindicações à parte, quem visitar a feira terá oportunidade de conhecer o que há de mais avançado em termos de máquinas e soluções para o agronegócio. Segundo a Informa Exhibitions, promotora do evento, a edição 2019 contará com mais de 800 marcas nacionais e internacionais e tem a expectativa de receber 150 mil visitantes do Brasil e do exterior. Na parte de máquinas agrícolas, a palavra da vez é “conectividade”. Todas as grandes marcas do setor têm alguma novidade nessa área. No caso da americana John Deere, além de trazer para a feira seus tratores e colheitadeiras e o pulverizador Orion 250 da marca PLA, adquirida no ano passado, a empresa fará o lançamento comercial do seu Centro de Operações, uma plataforma que faz o gerenciamento online de dados e integra informações agronômicas, com aquelas da máquina e de produção. “Esse cruzamento permite ao produtor identificar oportunidades de redução de custos de insumos e otimização da operação, tudo de forma segura, centralizada e à distância”, diz Rodrigo Bonato, diretor de Vendas da John Deere Brasil. Na mesma pegada, a Case IH, marca do grupo CNH Industrial, lançará na feira o AFS  Connect, plataforma digital que integra gerenciamento de frota, informações agronômicas e meteorológicas. “O sistema garante assertividade nas tomadas de decisões, uma vez que os produtores terão acesso aos dados de seus equipamentos e das lavouras de forma integrada”, diz Diogo Melnick, gerente de Marketing Comercial da Case IH. “Futuramente, a ferramenta vai possibilitar diagnósticos remotos e atualização dos softwares das máquinas em tempo real”, acrescenta. Outro lançamento da marca na feira é a edição especial John Pearce da Colhedora de Cana A8810. A máquina em cor preta homenageia o australiano, morto em 2017, que se tornou um ícone da mecanização da colheita da cana-de-açúcar. O fato é que a Agrishow é a maior vitrine do Brasil para a indústria de máquinas agrícolas. Não por acaso, as empresas participantes costumam oferecer condições especiais para o agricultor que adquirir o equipamento durante o evento. “Muitos clientes aproveitam a oportunidade para fechar aquele negócio que já estava sendo prospectado ou ainda iniciar uma nova negociação que irá se concretizar nos meses seguintes, garantindo um melhor preço”, explica Melnick. Outro destaque da edição é o Banco de Dados Colaborativo da Agrishow (BCDA), uma iniciativa da Abimaq para resolver o problema da falta de comunicação entre equipamentos e sensores de máquinas de diferentes fabricantes. “Hoje os maquinários geram muitos dados por meio da internet das coisas, da telemetria. Mas alguns produtores têm plantadeira de uma marca, colheitadeira de outra, pulverizador de uma terceira. Os fabricantes são proprietários de seus bancos, e o agricultor, para ter acesso, precisa comprar só daquela marca”, diz Marchesan. Preocupada com a situação, a entidade lançou o BCDA, que integra as informações geradas por todos os fabricantes. “A autorização de acesso às informações é dada pelo produtor, e o benefício é ele ter todas os dados de suas máquinas e sensores integrados em um único lugar”, diz. Para aquele produtor rural que ainda tem dúvidas sobre como utilizar todas essas tecnologias digitais, a Embrapa estará com um painel sobre a trilha a ser percorrida para a adoção da agricultura de precisão. Pesquisadores vão demonstrar como trabalhar com mapas de produtividade, inteligência artificial, cluster de manejo e aplicação diferenciada de sementes, herbicidas e fertilizantes. A Agrishow 2019 terá também um palco destinado à apresentação de novas tecnologias e tendências; espaços para demonstração de máquinas em campo; áreas voltadas às startups e a Arena do Produtor Artesanal, com agricultores comercializando produtos como café, cachaça, doces e embutidos. O evento é uma iniciativa das principais entidades do agro. Entre elas, a Abimaq e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). AVIAÇÃO EXECUTIVA Outro setor que aposta na Agrishow para prospectar novos clientes é a aviação executiva, segmento que tem no Brasil o segundo maior mercado do mundo. Neste contexto, o empresário rural é uma peça-chave, uma vez que o campo representa boa parte das vendas. No caso da TAM Aviação Executiva (AE), o nicho responde por um quarto das vendas da companhia e cerca de 40% das comercializações de aeronaves a pistão e turbo-hélices. “O agronegócio é muito dependente de aviação pela falta de infraestrutura, como linhas aéreas e estradas. De uns três anos para cá, há também um aspecto de segurança, de o fazendeiro não poder ficar na sua propriedade ou, muitas vezes, ter que se deslocar em outro período por não ter a segurança adequada, o que justifica ter seu avião”, diz Leonardo Fiuza, presidente da TAM AE. A empresa tem um portfólio de 21 produtos de marcas como Beechcraft, Cessna, Bell e FlightSafety. Há modelos de US$ 500 mil (monomotores) até jatos de mais de US$ 20 milhões. Dentre os mais requisitados pelo setor, o destaque são as aeronaves turbo-hélices, que têm por característica pousar em pistas curtas, de terra, o que dá mais agilidade ao produtor para se deslocar de uma fazenda a outra. Mas tem crescido também a demanda por jatos executivos, aeronaves mais robustas, que também pousam em pistas curtas, mas que precisam ser asfaltadas. Nesta edição da Agrishow, a TAM AE estará no hangar Fontoura, em Ribeirão Preto, fazendo demonstração de várias aeronaves. O destaque é Citation Latitude, uma nova geração de jatos da marca Cessna cuja versão básica sai por US$ 17,3 milhões. “É uma aeronave que tem um excelente alcance, praticamente toda capital ou grande localidade. É possível fazer a América do Sul inteira. De Rondonópolis (MT) para São Paulo, o produtor leva três horas se estiver em um turbo-hélice e uma hora e meia de jato”, finaliza Fiuza.

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