Técnicas permitem criar mais bois sem abrir novas áreas no Pantanal

9 de dezembro de 2019 4 mins. de leitura
Lançado pelo WWF, programa de boas práticas aumenta a produtividade no espaço atualmente ocupado pela pecuária na região

O que faz uma ONG preservacionista implantar um programa de capacitação voltado às Boas Práticas Agropecuárias (BPA)? No caso do WWF Brasil, a motivação para o lançamento do BPA Nascentes do Pantanal é a otimização da produtividade sem aumento de área ocupada pela pecuária, atividade praticada na região há bastante tempo.

“As primeiras cabeças de gado foram trazidas pelos bandeirantes. A cadeia produtiva da pecuária tem quase 350 anos na região”, explica Júlio César Sampaio, gerente do programa Cerrado e Pantanal do WWF.

No entanto, diferentemente de outros biomas – como Mata Atlântica e Cerrado, em que a ocupação, segundo Sampaio, resultou na perda de mais da metade da cobertura natural nativa –, o Pantanal tem cerca de 83% do território preservado.


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“O bioma é um grande pasto. A maior parte das áreas é tomada por pastagens nativas, que têm aptidão para alimentar o gado, que ali chegou e se adaptou”, diz Sampaio. “Percebemos que a produção pecuária poderia ser uma grande parceira da conservação”, acrescenta.

Para viabilizar o projeto, o WWF Brasil fez parcerias com instituições governamentais, como a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul (Semagro), o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), o frigorífico Naturafrig,  as prefeituras locais, bem como sindicatos rurais, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a consultoria Boviplan e as empresas de nutrição animal Trouw Nutrition e Servsal.

O BPA Nascentes do Pantanal tem financiamento da União Europeia. O programa cobre os municípios sul-mato-grossenses de Rio Negro, Corguinho e Rochedo. “São cidades em que a pecuária é o principal alavancador da economia. Entendemos que, conservando a região, vamos preservar uma área importante, que são as nascentes do Pantanal, e alcançar os objetivos do WWF”, explica Sampaio.

Corrigindo erros

Um dos erros recorrentes nas fazendas voltadas à pecuária é a forma de exploração do solo. “O pecuarista compra a terra, desmata para formar a fazenda e planta o pasto. O gado entra, sai, e o produtor dificilmente pensa de novo na terra”, diz o gerente.

Ele se refere ao fato de poucos pecuaristas fazerem a adubação e a rotação da pastagem para ter uma melhor produção. Baseada no programa nacional de BPA da Embrapa, adaptado ao Pantanal, a iniciativa pretende mudar essa realidade.

“Olhamos para cada fazenda, para como é feita a gestão e as características que vão ou não contribuir para uma produção sustentável. Olhamos para os aspectos ambientais e sociais, e não só para o lado econômico”, diz o gerente.

Cada parceiro contribui de uma forma. A Trouw Nutrition apresenta seus produtos como solução para os desafios de gestão e nutrição. “Nos workshops e seminários, ensinamos como fazer suplementação do gado usando farelo de  algodão, casca de soja e gérmen de milho. Com isso, o pecuarista aumenta a produtividade e não precisa desmatar”, diz Francisco Olbrich, diretor de Negócios da Trouw Nutrition.

Um dos objetivos do programa é aumentar o número de cabeças por hectare. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os três municípios têm uma produtividade média que varia de 1,08 a 1,27 cabeça por hectare. “Queremos capacitar os produtores para que eles atinjam a lotação de pelo menos 1,5 cabeça por hectare. Pode parar parecer pouco mas é bastante significativo”, finaliza Sampaio.

Lívia Andrade

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