Comunicar o que o produtor faz de bom é o “calcanhar de aquiles” do agro

14 de novembro de 2019 4 mins. de leitura
Utilizar linguagem acessível foi uma das propostas dos palestrantes do Summit Agronegócio 2019, evento organizado pelo Estadão, para melhor a comunicação do setor com a população

A dificuldade em comunicar o que o setor agropecuário nacional faz de bom norteou as discussões do painel “Além de pop, tech e sustentável” do Summit Agronegócio 2019, evento organizado pelo Estadão, que este ano teve como foco as tecnologias para preservar e alimentar o planeta.

“O nosso agro é eficiente, focado em boas práticas, mas temos dificuldade de mostrar lá fora a sustentabilidade de nosso país”, diz Andrea Cordeiro, diretora comercial da Labhoro. E a barreira não se restringe à imagem do Brasil no exterior. Dentro do país, também há um abismo entre o que o produtor de fato faz e a percepção que a sociedade tem da maneira como ele conduz o trabalho no campo.

“O Brasil é reconhecido como produtor de alimentos, prova disso é que mais de 160 países compram os produtos brasileiros”, diz Eduardo Leduc, presidente do conselho diretor da Croplife Brasil, entidade recém-criada pela fusão de cinco outras vinculadas ao segmento de insumos.


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O objetivo da Croplife é justamente melhorar a comunicação do agro, antes fragmentada entre as diversas associações do setor. Um dos focos é esclarecer sobre a importância dos defensivos agrícolas. De acordo com Leduc, esses agroquímicos são fruto de anos de pesquisa e têm uma enorme contribuição para sustentabilidade. “Moléculas novas reduzem 50% do impacto ambiental. Todos produtos novos são mais amigáveis, mas o que se fala é o oposto”, explica Leduc.

Rodrigo Spuri, coordenador da cadeia soja na The Nature Consevancy (TNC), destacou a importância de se (tirar)tomar decisões à luz da ciência e da tecnologia. Segundo ele, quando se fala em agricultura em larga escala versus agricultura orgânica, as discussões são muito na base do “achismo”, o que apenas causa confusão.

Ele trouxe à tona a necessidade de o governo brasileiro usar uma linguagem mais acessível para se comunicar. Ele exemplificou, citando as liberações de novos registros defensivos agrícolas anunciadas este ano. O assunto foi divulgado de maneira técnica, o que gerou má interpretação e um temor da sociedade. Além disso, o coordenador da TNC bate na tecla da urgência de uma política de fiscalização para dar transparência à população. E isso não só em relação à agricultura convencional, mas também ao sistema de produção orgânico.

Arnelo Nedel, que está à frente da divisão das empresas de controle biológico da Croplife, a antiga ABCBio, falou do avanço do mercado dos defensivos biológicos no Brasil nos últimos anos e de como o uso desses recursos aliados aos agroquímicos convencionais trazem ganhos porteira adentro. No entanto, Nedel reconheceu a falha dos agricultores, associações e cooperativas em contar à população o trabalho que fazem para produzir mais, melhor, sem aumentar a área. “Éramos muito passivos, chegou a hora de comunicar o que o setor faz”, explica.

Palestrantes do painel de logística do Summit Agronegócio 2019; da esquerda para direita, Gustavo Porto (moderador), Roberto Rubio Potzmann (Rumo), Rivadavia Simão (ABTRA), Igor Figueiredo (VLI) e Adalberto Tokarski (Antaq) – Foto Marcelo Justo

Logística em foco

O último painel do Summit Agronegócio 2019 foi focado nos gargalos logísticos que a tecnologia pode resolver. Rivadavia Simão, membro da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (ABTRA) e diretor da Rocha Terminais e Logística, contou a dificuldade do dia a dia nos portos. “Às vezes, o navio chega e não pode atracar, porque não tem onde armazenar”, diz.

Já Adalberto Tokarski, diretor nacional da Agência de Transportes Aquaviários (Antaq), compartilhou como o Portolog, sistema que faz o agendamento e sequenciamento do acesso de caminhos ao porto e alinha a data de chegada dos navios e das cargas aos terminais, transformou o Porto de Santos. “É tudo sincronizado, tem um agendamento para que o caminhão de Mato Grosso não precisar ficar na fila no terminal”, explica.

Agora a demanda é por aperfeiçoamento no transporte de contêineres. “Precisamos saber o que está na carga e se vai seguir para exportação ou cabotagem [navegação entre portos marítimos]”, explica Tokarski. Também participaram do painel Igor Figueiredo, head de Agronegócio da VLI Logística e Roberto Rubio Potzmann, diretor de tecnologia da Rumo, empresa do grupo Cosan, resultante da fusão da Rumo Logística com a América Latina Logística (ALL) em 2016.

Por Lívia Andrade

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